- Oh mãe, nós somos pobrezinhos?
Herr..... Visto de que prisma?
Tendo em conta que andamos vestidos, calçados, temos casa, carros e jantar na mesa, acho que não nos podemos considerar pobrezinhos...
Mas se pensarmos que há dois anos atrás, o Luís e eu, juntos, ganhávamos mais do dobro do que agora e pagávamos bem menos por tudo!... Tendo em conta que jantávamos fora, comprávamos roupa, passávamos dois fins-de-semana por ano fora só os dois, tínhamos empregada uma vez por semana e uma empresa para passar a roupa a ferro e agora não temos nada! Hum... Não sei!
À hora do almoço ouvi no telejornal uma senhora dizer que havia uma nova classe de pobres. São os que vivem como nós, numa casa confortável, têm trabalho, carro, etc. Mas depois comem sopa ao jantar para deixar os bifes aos filhos, não sobra dinheiro ao fim do mês (fim do mês!!! hahahahaha) e não fazem nada a não ser pagar as contas da casa.
Cinema, foi-se!
Jantares, acabaram!
Roupa, só para as crianças! (De preferência em promoção)
A empregada agora sou eu!
Os fins-de-semana são passados cá, a fazer programas à borla!
Se há dias em que agradeço à crise pelas alternativas que descobri, pelos menús mirabulantes que crio com um terço do orçamento do supermercado, pelo valor que aprendemos a dar às pequenas e importantes coisas da vida, há dias em que me apetece chorar de raiva! Por não poder dar aos meus filhos a vida que imaginei, por ter que dizer constantemente que não à minha filha quando me pede alguma coisa, por não poder ir jantar fora com o meu marido de vez em quando para espairecer a cabeça, por ter tirado a natação à Gigi que ela adorava, por me ver de mãos atadas a sobreviver ao longo dos dias e a ver os dias a passar e os filhos a crescer... Sempre desejando que chegue o início do mês! Sempre a fazer contas à vida, sempre a pensar onde podemos poupar mais um bocadinho daqui para por ali!
Se há vidas piores? Há! Claro que há! Mas eu não vivo em África! Nem num bairro sem água ou esgotos! E neste momento, depois de ter pertencido a vida toda a uma classe média alta com uma vida do caraças, com férias em todo o lado, viagens, roupas, festas, champagne e carros novos, aprendo (ai o que eu tenho aprendido nestes últimos dois anos...) a viver numa classe de gente formada, altamente formada, com emprego ou não, que mora numa casa com tudo a que tem direito, mas que conta os tostões para ir ao super-mercado!
Tudo isto porquê? Por causa de 30 anos de má gestão de pessoas que não são responsabilizadas por isso. Que continuam a receber pensões sobre as asneiradas que fizeram, que têm milhões em offshores e vivem em apartamentos de luxo no centro de Paris e que deitam a cabeça na almofada à noite e dormem porque não têm de pensar onde vão arranjar dinheiro para meter 10€ de gasolina no carro para poderem ir trabalhar!
E isto lixa-me! Lixa-me mesmo!
E o que aí vem? Ai senhores, o que aí vem... Não sei! Não quero saber! Prefiro não pensar já nisso! Se tiver que comer pão com manteiga ao jantar, como! Mas os meus filhos é que não hão de ficar sem carne nem peixe à refeição! Ai não vão não!
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23 comentários:
Faço minhas as tuas sábias palavras... mas que p#%& de crise é esta que nos arruina a cada dia que passa? contar tostões...contar tostões o resto da minha santa vidinha...
Podia ser minha cada palavra. Subscrevo!
Penso assim mesmo. Tiraste-me as palavras da boca, das linhas de um post. Mas a raiva, tenho-a de igual forma.
belíssimo post.
beijinhos
Ai Kiki... olha nem vou comentar. Já pensei tantas vezes em escrever sobre isto, sobre como cresci, as coisas que projectei e os arranjos que provavelmente vou ter de fazer entretanto. Tenho aprendido muito com isto mas cheira-me que não vai ficar por aqui. Na sexta fui almoçar com os meus avós e o meu avó H. estava a falar do pai e de tudo o que construiu e disse "mas filha, aquela foi uma geração excepcional. Não vê que viveram durante a Primeira República e aquilo foi muito difícil de modo que ficaram muito bem preparados!" Pensei em aplicá-lo a mim, a nós! É um consolo grande que tenho, sabes? Há males que vêm por bem, sei lá! E se não pensarmos assim estamos perdido. É verdade que as coisas estão más mas caramba, temos 30 anos e vamos dar a volta e ainda temos muito para viver à grande! E já viste os bons valores que podes transmitir aos teus filhos? E se calhar tens de dizer não à Gigi mais vezes mas ela vai crescer a ver uma mãe que faz giga-jogas para terem tudo e ainda se divertirem e vai apreciar isso! Se assim não fosse, convenhamos, teríamos altas probabilidades de vir a ter uns filhos fúteis e irritantes que pensam que tudo lhes cai do céu. Eu não queria isso e não vai ser assim! Serão pessoas esforçadas que irão aprender a felicidade que nos proporciona trabalhar por aquilo que temos, dar mais valor aos laços familiares, aos amigos, aos pequenos gestos, ao estar presente! A "não tenho dinheiro para um grande presente mas vou arranjar um pequeno que te toque o coração". Essas coisas :) Não? Fii demasiado beata? Ahahah! Mas acredito mesmo nisto.
é bem verdade, somos uns tristes, o que aqui em casa nos vale é que a nossa despesa mensal fixa é reduzida mas sim, o cinema acabou, férias foram há dois anos, viagens para o estrangeiro há 3 e no entanto posso dizer que somos mais felizes agora do que antes.
Eu não tenho filhos, mas concordo com imensa coisa. Por culpa de uns quantos maus gestores e políticos, sofremos todos! Conta-se os tostões, fazem-se contas à vida todos os dias, mas acho que se se pode tirar alguma coisa boa desta crise é mesmo termos redescoberto o prazer das pequenas coisas. Não é preciso ir ao cinema nem andar a comprar livros nem roupas de marca para se ser feliz. Há filmes na tv, livros nas bibliotecas e roupa muito mais barata que serve o mesmo propósito. A mim o que me choca mais é a falta de valores e de esperança que as pessoas têm!
Eu acredito sempre que melhores dias virão!
Um beijo e força para esses dias de neura que te atacam de vez em quando!
Estou mesmo arrepiada, vou partilhar este post... espelha a realidade de milhares de famílias!
beijinhos* e que daqui a 2 anos as coisas estejam um pouco melhores...
Aí Kiki... Uma beijaça!! Compreendo-te perfeitamente!! :(
A classe média-alta é a que mais sente....
Os que já eram pobrezinhos sentem menos , desde que consigam por comer na mesa...falo por mim...
Acredito que perder certos luxos custe!
Mas quem nunca os teve é igual... para mim o essencial é comer na mesa, tecto e roupa lavada, enquanto tivermos isso estou bem,.
Oh rapariga tu faz copy/past e manda isto para o Gabinete d0 1º Ministro. Estas bestas têm que responder perante a Justiça...
Olá, boa tarde!
Como te entendo!
Também me está a custar. Também estou numa situação como a tua. Não sinto (ainda) a tal diferença para metade, nem cheguei a estar na classe média alta, mas as coisas que se passam e que vão passar-se ainda indignam-me porque tb não esperava, pelo menos quando me estava a formar (eu e o meu marido, ambos professores). Aí, pensava mesmo que ia dar uma vida muito melhor aos meus filhos do que aquela que tive, estando só o meu pai a trabalhar. A verdade é que dói!! Dói muito!
Beijocas
Que belo post kiki, tambem estou cheia de receio do Futuro e também já tenho cortado em muita muita coisa mesmo!,QUE RAIVA QUE SINTO
Soube muito bem ler este post...nao pela realidade que apresenta mas pelo sentimento de identificação que senti... obrigada. Muitos parabens pelo blogue!
Kiki, grande post. Vou divulgar. Beijinhos.
se fosse professora dava 20 valores ou 100% como no meu tempo a este texto...
mega bom, não podias dizer mais sobre o dia a dia da nossa geração que dizem rasca, mas rascas são eles que nos deixaram assim :(
Ah pois, tens de dar carninha e peixinho aos meninos, nem que para isso tenhas de deitar a internet e a tv cabo abaixo, que isso sim é deveras importante.
Obrigada meninas!!!
Infelizmente, nos dias que correm, são mais as pessoas que se identificam com este post do que as que não se identificam...
Obrigada pelas vossas partilhas!
ai mulher deixaste o meu coração apertadinho! onde vamos nós parar...
* beijocas
Gostei de tudo o que escreveu menos do palavrão. Que feio - e não é costume em si. Não era nada preciso. Dizer que estava "lixada" já chegava muito bem como coloquialismo. É a minha opinião. Olhe que os seus filhos, se a ouvem, vão passar não tarda nada a dizer asneiras dessas.
Também eu me identifico. Bela vida que já tive, hoje em dia, separada e ainda por cima, desempregada. Duas crias e uma identificação enorme com este post, Kiki.
Eu também tenho tentado ver o lado pedagógico desta crise, também vi que me estavam a a passar ao lado muitas coisas importantes...mas agora já começo a deparar-me com a falta de esperança no futuro e isso é devastador.
Brilhante, Kiki!
Kiki nada a acrescentar, falas da verdadeira realidade que nos assiste, muitas das mudanças que revelaste aconteceram cá em casa, se fiquei triste por isso, não muito, custou um pouco, mas tentei tal como tu tirar outros proveitos de bem estar com essas mudança...mas onde e quando isto pára, doí-me a alma só de pensar que o que vivemos pode não ter fim a médio prazo, sofro pelos nossos filhotes que sem culpa nenhuma sofrem com esta ocorrências, e sabes às vezes acredito que ainda tive um infância mais calma do que aquela que hoje eles estão a viver.
Beijinhos
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