Quando era Educadora (sim! com letra maiúscula!) também fiz parte da Comissão de Protecção de Menores. Era um trabalho que achei, na minha doce ingenuidade, que seria fascinante e estava pronta para mudar o mundo e salvar uma data de crianças e famílias.
Certo é que, a realidade é bem diferente daquilo que imaginamos. Há até realidades que não somos sequer capazes de imaginar que existem e tão perto da nossa casa. A minha colaboração com a Comissão não durou muito infelizmente... Acabou no dia em que uma colega foi retirar 3 crianças a um pai. Era uma situação extremamente complicada e macabra que metia violência, álcool, sexo e crianças... Estas palavras na mesma frase não combinam... E este pai foi à Comissão pedir satisfações. Foi a primeira vez que vi uma caçadeira à frente, foi a primeira vez que vi raiva nos olhos de um homem e foi a primeira vez que me apercebi do quão sou agarrada à minha vida.
Este episódio foi muito marcante na minha vida... A partir daí nunca mais consegui pôr os pés dentro da Comissão. Sempre que chegava o dia de ir para lá tinha dores abdominais horrorosas, vomitava, a cabeça parecia que rebentava... Enfim... Tive mesmo de me vir embora. Tive de optar entre ter uma vida tranquila, ou andar a esconder-me atrás de árvores ou prateleiras de supermercado cada vez que me cruzava com alguém de alguma família que eu estivesse a acompanhar. (É que ainda por cima, eu trabalhava na Comissão da minha área de residência, o que ainda complicava mais o boneco!) Tive (e tenho) muita inveja e muita admiração pelas minhas colegas! Pela coragem que têm, pela força e dedicação com que trabalham.
As pessoas dizem muitas vezes mal dos técnicos das Comissões de Protecção de Menores, mas não sabem que aquele é um trabalho voluntário. Que as pessoas abdicam de tempo do seu trabalho para lá estarem e não recebem um tostão a mais por isso, que quando vão fazer visitas aos domicílios têm de ir com um carro da GNR atrás porque nunca se sabe o que nos espera ou o que estará por trás da porta, que é preciso passar dias inteiros em tribunais para acompanhar as audiências e conhecer o destino das crianças, muitas vezes institucionalizadas. As pessoas não têm noção das ameaças que se recebe, das coisas horrendas que têm de ver, ouvir e assistir. Mas o pior mesmo é que estão crianças no meio de tudo isto! E é por elas que estas pessoas trabalham! Para as proteger!
Eu não tive essa bravia...
Enfim! Tudo isto para chegar a um episódio que se deu hoje. O meu olho mais técnico fez-me desconfiar (já desde o ano passado) que uma determinada criança da escola da Gigi deveria estar sinalizada na Comissão. Por diversas situações que assisti, ouvi, etc... Hoje, assisti a uma cena que pôs gravemente em causa a segurança da criança e a integridade física dela já do lado de fora da escola e pensei que não podia ficar calada!
Agarrei no telefone para ligar para a educadora mas detive-me por minutos...
Quem era eu para me meter naquele assunto?
Eu nem conhecia a história de vida daquela criança...
Eu nem tinha a certeza de que ela estaria sinalizada...
Mas aquilo foi tão grave e mexeu tanto comigo que, como mãe, como Educadora e educadora e como ex-técnica da Comissão senti que não devia ficar quieta.
A minha suspeita confirmou-se! A educadora agradeceu imenso eu ter ligado e disse que era um dado importante para o dossier da criança. Que o processo já estava em audiências no tribunal e que ela ia ter essa informação em conta. E eu pior fiquei... Porque se calhar vou ajudar a tirar aquela criança de uma terrível realidade mas se calhar vou ajudar a retirarem um filho a uma mãe... E isso, hoje, faz-me ainda mais confusão...
E agora tenho o meu coração bem apertadinho sem saber se sorrio ou se choro...
****
5 comentários:
Olá Carolina,
Tenho visitado o teu blog e confesso que estou tua fã.
Manifesto o meu apreço pela tua generosidade, sensibilidade e enfim MÃE, mulher a 10000000%.
Parabéns pela coragem por publicares as tuas duvidas, incertezas e focares um assunto tão delicado, tão sensível, .....Sou voluntária já lá vão 6 anos numa Instituição que recebe essas pequenas crianças frágeis, revoltadas, frustradas, sem afecto; no fundo nunca foram amadas. Sei exactamente o que estás a sentir, mas a tua acção foi eloquente.
Quem sou? perguntas tu?! A mãe do Francisco Rego - lembras-te!!?
Recebe um grande abraço e muitas mas muitas felicidades para ti e familia.
Se um dia precisares de desabafar sobre estas matérias e nos momentos de duvida podes contactar-me.
Ana
Olá Ana!
Não tenho palavras... OBRIGADA! Mesmo obrigada! Snif...
Escrever é uma paixão para mim e este blog é apenas uma brincadeira, um hobby, um vício...
Fico feliz por saber que há pessoas que gostam de cá passar!
Não tenho a certeza se o Francisco que eu estou a pensar é o teu filho porque não me estou a conseguir lembrar do apelido. Foi onde? (manda-me por e-mail se quiseres ou então não publico o comentário!)
Obrigada pela disponibilidade!
Beijinho
trabalho num lar de acolhimento ... sei bem do que expressas aqui.
opinião: fizeste mt bem!!! e sorri sempre! o bem-estar da criança e o proporcionar afecto está em primeiro lugar!
bjs*
claro que um filho deve estar com a mae e o pai.mas claro que os pais devem dar amor,educaçao,carinho aos filhos.se isso nao acontece,se esses pais maltratam os filhos,se nao dao o que eles precisam,entao sim esses pais nao merecem ter os filhos nas maos deles porque correm perigo e muitos correm perigo de vida e é graças a acçoes assim como estas que essas crainças se safam.
um beijinho
Olá :) parabens pela tua generosidade, claro ke n vou me esticar com elogios pk n precisas pk sabes bem quem és ;))..
só queria dizer ke ate entendo ke n sorrias, pk denunciar situaçoes sem se ter uma rigorosa certeza do ke se está a fazer..é mto perigoso e cruel..eu pelo menos nunca o faria, pk pior ke uma criança menos bem tratada é uma criança ke se é e se sente abandonada..
já tive algumas experiencias nesse trabalho e digo ke faz-se mais mal ke bem ou retirar mtas crianças dos pais ..enfim opiniões :))
Enviar um comentário