03/06/2018

E agora? O que é que eu faço?

Tens as respostas dadas vez mais empertigadas. Já começas a revirar os olhos de cada vez que te peço alguma coisa que não te apetece fazer. E lá vai ela! A bufar pelo caminho e atirar as mãos pesadas pelo ar. Basta-me dizer o teu nome para voltares à postura de menina bem educada, mas sei que fervilhas por dentro.
Achas sempre que estou a ser injusta contigo em relação ao teu irmão. Nem imaginas que é exactamente ao contrário e que passo a vida a fazer orelhas moucas às respostas que desabafas em voz baixa. Não porque não queira saber, mas precisamente por saber que fazem parte e não quero entrar em confronto constantemente. Tenho presente em mim uma adolescência ainda fresca. Sei bem que tens um monte de hormonas a comandar o teu sistema nervoso e todas as mudanças que estão a decorrer aí dentro. E aí fora! Ainda tenho bem presente o que estás a sentir.

Ainda recuas quando te lanço o meu olhar número 37. "Desculpe mãe!" Por isso sei que me respeitas e sabes bem quais são os limites (apesar da ousadia em tentar ultrapassá-los). Já percebi tudo! As birras que não fizeste com 2 anos, guardaste-as para agora, não foi?

Tens o desplante de afirmar assertivamente factos que aconteceram antes sequer de nasceres, mesmo depois de eu te dizer que é exactamente ao contrário. Isto está a ficar bonito!

Safa-te a tua doçura quando olhas para mim e a tua generosidade ao cuidar do teu irmão! O respeito que tens pelo Mundo e pelas pessoas.

Sempre foste teimosa e persistente.

Eu estou aqui. A observar. A aprender. A viver a tua adolescência de filha ao mesmo tempo que entro na minha adolescência de mãe. As mudanças não estão apenas a acontecer contigo. Estão também a acontecer comigo. Eu também estou a aprender a lidar com a tua autonomia. Com a tua autonomia intelectual, a tua autonomia emocional. A tua autonomia em geral! Quando achas que já sabes exactamente o que precisas e já tentas fazer tudo sozinha. Calma miúda! Calma contigo.

E calma comigo também. Não andes depressa demais porque eu estou a correr atrás de ti, a aprender a lidar com esta nova menina grande que está a entrar em casa aos poucos mas cada vez mais depressa. Depois perco o fôlego! E não quero ser injusta e ter de dar razão às tuas reivindicações.

Já sei que isto tende a piorar! E eu espero continuar a sentir empatia com as tuas hormonas, espero continuar a ter fôlego para correr atrás de ti. Espero que o meu olhar 37 continue a funcionar.

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