27/04/2018

Entretanto, de que vale tudo isto?

Têm sido meses apressados. Na realidade, tem sido uma vida inteira apressada.

Ainda me lembro de ver a minha mãe com uma caixa de chocolates no colo, sentada à frente da televisão. A minha mãe odiava chocolate. Percebi naquele momento que vinha aí mais um irmão. Entretanto, passaram-se 26 anos. Mas eu achava que tinha sido ontem.

É matreiro o tempo. Um dia estás a cantar para as tuas bonecas, no dia seguinte estás a ver a tua filha cantar para ti.

E no entretanto? No entretanto cresceste, respiraste, constipaste-te, deste gargalhadas, comeste, dormiste, estudaste, apanhaste trânsito, levaste com chuva na cabeça, pisaste cocó na rua, recebeste presentes, foste injusta, foram injustos contigo, partilhaste abraços, beijos, choraste. No entretanto aconteceu uma vida.

Uma vida! Uma porra de uma vida! (A interpretação do "porra" pode divergir conforme a capacidade de optimismo vs pessimismo do leitor). É perigoso parar para pensar nisto. De que vale isto tudo? Independentemente de sermos pobres ou ricos, de sermos altos ou baixos, de sermos brancos ou pretos, de sermos do norte ou do sul, independentemente de tudo isso, todos nascemos e todos morremos. O que fazemos entretanto é fruto da sorte, da oportunidade e do trabalho. A verdade é que não escolhemos nascer, também não sabemos quando vamos morrer. Vamos tentando dar o nosso melhor enquanto isto ainda dura. Certo?

Esta merda passa incrivelmente depressa. Vamos dando graças pelo que vamos tendo porque sabemos que temos uma sorte incrível só pelo facto de termos nascido aqui! Podíamos ter nascido numa favela no Brasil, numa tribo em África, no centro de NY, num Palácio em Abu Dabi. Não! Nascemos aqui! Neste país. Nesta família. Com esta realidade. Vamos construindo o nosso caminho com as ferramentas que a sorte nos vai proporcionando. Tentando não partir nada à nossa volta com o nosso trabalho e tendo cuidado para não nos distrairmos quando as oportunidades se metem à nossa frente. Vamos interagindo uns com os outros. Umas vezes com todo o sentido do Mundo, outras vezes sem sentido nenhum.

Às vezes olho para a Humanidade como se tivesse um globo de neve na mão. Onde todos estamos! Nas nossas vidas. Umas melhores, outras piores. Todas com o mesmo começo, todas com o mesmo fim. Todos a tentar dar o nosso melhor durante esta passagem absurda (a palavra "absurda" pode ter a mesma divergência que a palavra "porra") pela Terra. Pela Vida!

Não sabemos muito bem o que cá fazemos. Mas, felizmente, temos a sorte de conseguirmos abstrair-nos desta questão no dia-a-dia. Por isso vamos vivendo. Com todos os altos e baixos. Com mais ou menos conquistas. Com mais ou menos Vida.

Continuo sem saber de que vale isto tudo. Continuo sem entender porque acontece cada coisa a cada pessoa. Como é que as oportunidades de manifestam e como escolhem a quem se manifestam. Continuo sem entender porque interagimos com determinadas pessoas e não com outras. Julgo que nunca alguém terá resposta para esta questão. Já que aqui estamos, vamos aproveitar! Já que vamos aproveitar, que seja em bom! Mas continuo a achar uma treta isto passar tão depressa.


1 comentário:

Ana disse...

Penso tantas vezes no que escreveste agora... e eu a pensar que era só eu...
Beijinho e continuação de muita meditação :-)