05/05/2018

Mais um filme com a minha viatura!

Digam lá que não estavam com saudades!
Desta vez trago-vos uma aventura digna de telenovela. Mete suspense, comédia e horror. Tudo a que a minha vida (e o vosso deleite) merecem.


5ª feira

8:10
Tenho os miúdos dentro do carro e preparados para irmos às nossas vidinhas. (Kikimobil já tinha ameaçado de véspera não pegar mas, tudo tinha acabado por correr bem.)
Carro não pega. Não responde. Nada! Surdo e mudo! Quieto e calado... Não temos muito tempo para pensar no que fazer. Temos horários a cumprir (que já estavam completamente esmagados). Vamos de Táxi! Deixei as crianças na escola. Fui para a minha escola. Logo pensava como ia resolver este ananás.

18:00
Consigo boleia com uma colega. Ela apanha os meus filhos e seguimos para casa. Rezo a todos os anjos e Santos para que o meu carro pegue à chegada. Nada!
Enfio as crianças em casa, chamo um reboque e aviso o mecânico que o carro vai chegar.
O homem do reboque chega.


Russo, careca e gigante, começa por insultar o meu mecânico e acaba afirmando que as mulheres só não têm o que não querem. (Como se o problema do carro não me fosse já suficiente, ainda tenho de aguentar isto...) Enfim... Põe-me o carro a trabalhar e manda-me ir à oficina trocar a bateria. Agarro nos miúdos, vamos direitos ao shopping, enfio o carro naquelas oficinas de shopping e peço para me trocarem a bateria.

21:00
O carro ainda não está pronto. Tenho duas crianças com banho por tomar, compras de supermercado no braço e ainda não me sentei o dia inteiro sem ser para guiar ou comer.
Temos novo diagnóstico!
- A bateria está óptima! O problema é elétrico. Tem de ir embora porque aqui não arranjamos nada disso.
- Então e se o carro não pegar amanhã?
- Reze!




6ª feira

8:00
Miúdos, mochilas... Cabrão do carro mudo e quieto outra vez.
Chama outro Taxi....

16:30
Consigo pedir uns cabos de bateria emprestados. Chamo um Uber. Vou a viagem toda a ganhar coragem para pedir ajuda ao motorista do Uber! Eu só precisava de ligar a bateria do meu carro para poder levá-lo à oficina e resolver isto de vez. O senhor muito simpático. Oferece-me rebuçados, dá-me água, fala do trânsito e do tempo. Lá ganho coragem e peço ajuda. Ele, muito simpático oferece-se imediatamente para ajudar!



17:00
Pára o carro dele ao lado do meu! Eu saio para abrir o capot. Estou a 5 segundos de pôr o meu carro a trabalhar e ir ao encontro da solução para o seu problema. Assim que pomos os cabos da bateria nos sítios certos.... O meu carro fecha-se! O MEU CARRO FECHA-SE! Tenho tudo lá dentro! A chave do carro, a chave de casa, o telemóvel, a carteira, OS CIGARROS, tudo... TUDO!



Tenho vontade de chorar! Encosto a testa ao vidro do meu carro e só penso... Não... Não... Isto não está a acontecer... O motorista do Uber olha para mim cheio de pena. Acho que ele também está quase a chorar!


- Uma pedra! Temos de arranjar uma pedra! Vamos partir o vidro!
- Tenha calma menina! Vamos pensar antes. Não resolva as coisas assim! Tome o meu telefone, ligue ao seu marido!
- Eu não tenho marido!
- Mas ligue para casa!
- Eu não tenho ninguém em casa...
- Mas não tem ninguém a quem ligar?
- Não! Eu não sei o telefone de ninguém! Não tenho chave suplente do carro. EU NÃO TENHO NADA!!!



E eu queria chorar! Oh se queria! Estava quase a roubar um abraço ao motorista do Uber... E um cigarro! Também queria muito um cigarro!

De repente, fez-se-me luz! O defunto! O defunto vai buscar os filhos e é o único número para além dos meus pais que eu sei de cor!



Muito bem, defunto a caminho. Mas é 6ª feira, há um Estoril Open a acontecer e é preciso enfrentar uma auto-estrada para vir buscar os filhos e, finalmente, chegar até mim.

Agradeço imenso ao motorista da Uber e mando-o à vida dele. Ele quer ficar comigo até chegar alguém, mas eu explico que não vale a pena.

Segue-se uma hora e trinta minutos de marasmo total! Tenho uns cabos de bateria numa mão, uma garrafa de água na outra. Uma hora e trinta minutos sem poder ir a lado nenhum! Não tinha dinheiro sequer para um café. Não tinha telemóvel. Não tinha CIGARROS. Nada... Não tinha nada...

Olhei para o céu. Contei nuvens. Segui formigas. Contei pedras da calçada. Pisei ervas. Volta e meia soltava uma gargalhada. Mas continha-me para não acharem que eu estava louca. Embora eu ache que estava mesmo!


18:30
Defunto chega com as crianças. Sinto um alívio enorme. Alguém com quem falar! Alguém conhecido! Alguém que me ature! Cabrão! Não tinha cigarros!
Claro que levei com o chá todo do "Só tu! e os vidros e o seguro e a bateria e o mecânico. Tu isto e tu aquilo" bla bla bla! Ah... Tão bom! É tudo o que precisamos ouvir num momento destes! Que somos uns vermes descontrolados, desorganizados e inconscientes! Isso! Que seria de nós sem defuntos na vida... Então defunto encarna o Holly spirit do MacGyver! Apanha paus e ferros e fios!



- Empresta-me o teu telefone para ligar aos bombeiros!
- Não! Tenho tudo controlado! É só por este pau aqui e passar o fio ali e depois puxar. Vai resultar.

18:40
- Vá lá... Deixa-me ligar aos bombeiros!
- Não! Já estou quase! Vou só por o pau mais para ali...



18:45
Defunto bate freneticamente com um paralelo da rua no vidro do carro. Nada.... Já tenho a vizinhança toda à janela. Um carro com dois paus espetados na porta e um defunto a atirar-lhe com pedras ao vidro.

18:50
- Sim? É dos Bombeiros? Obrigada! Até já!

Finalmente vinham os Bombeiros! Já não aguentava mais estar em pé. Já não aguentava mais explicar às pessoas o que se estava a passar. Começava a ficar com frio. Precisava urgentemente de um cigarro. E estava a ficar louca de fome. E o xixi?? Precisava tanto de fazer um xixi!!! Vicente divertia-se a procurar um lugar secreto para eu poder fazer um xixi sem ninguém ver. Mas... De repente...



19:10
Ao fundo da rua avistam-se os Bombeiros. Eu esperava uma carrinha pequena. Só um martelinho bastava para partir o vidro. Não... Vem um camião dos grandes. Seguido de uma carrinha do INEM.
Não quero acreditar na comitiva que chega. Vou a correr ter com os homens da ambulância avisar que é só um carro trancado. Tenho pânico que alguém precise do INEM e ele esteja ali.
- Tem de ser menina. Para o caso de alguém ficar ferido na abertura do carro.
- Oh meu Deus...


Os vizinhos já estão todos à janela! Já há telefones apontados a nós... Ainda falta o carro da PSP.
Os Bombeiros não podem arrombar o carro sem a presença da PSP.
Só que os rádios deles dão sinal de alarme!
Há um incêndio.
Onde?
À porta de casa do Marcelo.

Morar em Cascais dá nisto. Os Bombeiros ou estão em casa da Kiki ou em casa do Presidente da República.



- Menina! Vamos só ali apagar um incêndio e já voltamos!

Lá vão os Bombeiros e o INEM com as sirenes ligadas apagar o incêndio à porta de casa do Marcelo!
Mais uma hora à espera.... Os poucos vizinhos que ainda não estavam à janela, chegaram neste momento.

19:20
Chega a PSP.
- Os Bombeiros já cá estiveram, mas foram só ali apagar um fogo à porta do Presidente e já cá voltam!
- Vamos lá!

Quando eu digo que vivo numa aldeia e ninguém acredita! É isto...
Quem está a adorar tudo isto são eles! A Gigi e o Vicente!

Já temos um vizinho que acabou de se tornar o nosso melhor amigo. Já teve um carro igual ao meu e com o mesmo problema. Dá imensas ideias à MacGyver para resolver o problema. De repente acho que só eu é que me lembro que estamos à espera que os Bombeiros voltem.  Mas o senhor é uma simpatia e mantém o defunto entretido.

20:10
Os Bombeiros voltam. Mas agora não temos a PSP outra vez. Vejo um dos bombeiros a fumar.
- Posso pedir-lhe um cigarro? Desculpe.....
Ele ri-se!
- Deixe-me adivinhar... Os seus estão dentro do carro!
- Já viu que eu estou à porta deste carro há 3 horas e nem um cigarro?

20:15
Finalmente volta a PSP. Incêndio ao lado do Tio Marcelo resolvido! Agora falta abrir o meu carro. Estão 10 homens à volta do meu carro! De repente... A porta abre-se! Finalmente!!! Os bombeiros aproveitam a abertura da porta que o MacGyver fez com os paus para abrir o fecho com um ferro. Afinal não foi preciso partir o vidro.


A merda do carro continua sem ligar. Mas... Já ninguém aguenta mais nada hoje!
Sábado é outro dia!






3 comentários:

Unknown disse...

Ufa!!!! estou cansada!!!!

Anónimo disse...

E eu continuo sem entender porque é que tantas marcas de carros patrocinam bloggers e afins e não são capazes de se chegar à frente e arranjarem-lhe um carro em condições, também é blogger ou não?
Não digo que ler isto não seja "engraçado" mas merecia melhor
Andreia

Cá coisas minhas disse...

Bem que história, menina....
Mas fora de brincadeiras. Acho que o mais irritante de tudo, foi teres que pedir ajuda ao defunto, certo? Deve ser tão revoltante.