Primeiro não me apeteceu escrever sobre este assunto simplesmente porque não... Depois pensei que não era justo visto que algumas das características deste meu pequeno grande depósito de escrevinhações sempre foram a transparência, a espontaneidade e a sinceridade... E agora que o tema foi efectivamente lançado penso até que pode ser uma ajuda para tantas pessoas que estão a passar pelo mesmo. Infelizmente são cada vez mais...
Acho que passados uns largos meses sobre a coisa, consigo até olhar para trás com mais clareza e fazer uma melhor avaliação do que tem acontecido até aqui.
De repente uma família quebra. Quebra um sonho construído supostamente a dois, depois a três e depois a quatro. Quebra um projecto de uma vida, que tinha sido tão planeado e tão desejado ao longo de toda a minha existência. Fica a sensação de fracasso, o vazio, a frustração, a tristeza, por vezes a raiva... As motivações que levam uma família a quebrar com o que estava planeado e tão seguramente traçado são várias. Umas por um motivo, outras por outro. Mas em todas as situações, é impossível não ficar a sensação de derrota e o vazio.
E de repente ficamos com um turbilhão de coisas a passar-nos pela cabeça, mas ficamos também com os "restos" de um casamento nas mãos. Os filhos! E esses foram sempre a minha prioridade! Foram poucas ou nenhumas as vezes que eles me viram chorar mesmo quando punha os óculos escuros no carro ou no parque porque não conseguia conter todas as emoções que me passavam pela cabeça, pela alma, pelo coração... Se poucas forças havia, essas eram utilizadas para mostrar sempre o meu maior sorriso e a minha melhor disposição sempre que estava com os meus filhos ou com outras pessoas. E só quando eles iam para a cama e a casa ficava vazia com o meu corpo vazio e amarfanhado depositado no sofá, é que eu limpava a alma e deitava para fora tudo o que tinha guardado ao longo do dia. Fazia-me bem. Carpir a dor que sentia e largar o turbilhão de sentimentos que iam aqui dentro. Chorei noites a fio e, tal como uma alcoólica, comecei, devagar a erguer-me e a contar as noites sem lágrimas. "Já não choro há 2 noites! Já não choro há 5 noites! Já não choro há 16 noites!" E assim foi até me esquecer de contar e até conseguir de novo voltar a mim.
O mais difícil foi dar colo a filhos sem mostrar que quem precisava de colo era eu. Explicar-lhes o que se estava a passar e ver a cara deles (dela principalmente) foi talvez a coisa mais difícil que fiz em toda a minha vida. Dizer as coisas devagarinho e as vezes que fossem precisas: os pais já não são namorados! Agora são apenas amigos! Os amigos não vivem na mesma casa, mas visitam-se sempre que têm vontade. Explicar-lhes infinitas vezes que os pais os adoram acima de tudo e para sempre, independentemente de viverem ou não na mesma casa. Que isso é a única coisa que não irá mudar nunca! E ver um coração de 4 anos a fazer perguntas, a chorar, a querer o pai quando o pai não estava, a mãe quando a mãe não estava. A pedir para os pais voltarem a dormir na mesma cama... Não é fácil... Não é mesmo nada fácil... Ver os filhos a sofrer por causa de erros dos pais é mesmo a pior coisa do mundo. E o que eu mais queria era que eles nos perdoassem por estarmos a fazê-los passar por aquilo e poder passar aquela dor para mim.
Sempre fizemos questão de não discutir na frente deles. NUNCA! Sempre fizemos questão de lhes mostrar que a culpa não era deles. Não é preciso verbalizar isso. Apenas passar-lhes essa energia. A conselho da psicóloga, o pai vinha buscá-los todos os dias para os levar ao colégio. E isso ajudou! A que eles vissem o pai todos os dias e a manter o pai na rotina diária deles. Já não é o pai que os vai por na cama depois do jantar, mas é o pai que faz questão de os vir buscar de manhã e de estar com eles todos os dias e isso foi importante!
Também decidimos que o pai estar com os filhos de 15 em 15 dias era de menos. E por isso partilhamos todos os fins-de-semana.
Evitei sempre ter conversas sobre o assunto à frente deles e nunca permiti que ninguém criticasse o pai deles à frente deles. Nunca! Independentemente de tudo, pai é pai e este é o dos meus filhos.
Aos poucos eles entraram na nova rotina. Aos poucos entenderam que esta era a nova realidade. Aos poucos foram ganhando de novo confiança e perceberam que os pais, que agora são só amigos, vão ser sempre os seus pais e eles continuam a ser os nossos filhos para sempre e incondicionalmente. E aos poucos voltaram os sorrisos e as gargalhadas.
E a verdade é que sim! A vida volta a sorrir! E se virmos bem, ela nunca deixa de o fazer. Só temos que saber olhar para o lado. E quando achamos que o mundo vai acabar, há sempre, sempre (prometo!) alguma coisa no meio da escuridão que nos pode fazer sorrir! Um abraço de um amigo, o sorriso dos filhos, um qualquer sinal que a Natureza ou o destino nos envia. E foi assim que consegui voltar a olhar para a vida, a apanhar, no meio da confusão, as pequenas coisas que me iam sorrindo. E aconteceram tantas coisas tão boas ao longo destes últimos meses que, apesar de tudo, só posso ser grata. E é essa a mensagem que deixo... Quando pensarem que tudo está mal, limpem as lágrimas e olhem para o lado! Há de certeza alguma coisa que vos vai fazer sorrir, só temos que dar por ela, porque com os olhos cheios de lágrimas, às vezes a visão fica turva.