O sistema escolar do nosso país não foi feito para crianças. Nem para professores. Foi idealizado por políticos barrigudos que nada percebem nem de crianças nem tampouco da profissão de professor e educador.
Em vários países chamam-lhe Kindergaarten (Jardim Infantil). No Brasil chamam-lhe Jardim Escola. Cá chamam-lhe Pré-Escolar! Em tempos chamaram Jardim de Infância, mas algum ignóbil de fato e gravata achou melhor alterar. Provavelmente para nos meter nos padrões europeus de qualquer coisa.
O teu filho de 3 anos está no pré-escolar! Quando devia era estar no Jardim Escola. Até aos 7 anos de preferência. E não era menos inteligente, por aprender a ler quando chegasse a altura dele. Era sim mais feliz porque brincou até o corpo e o cérebro pedirem momentos alargados de concentração em cima de livros.
Os nossos filhos são avaliados por um método que apenas quer saber se ele corresponde ao padrão! E o que é o padrão? Quem criou o padrão? Ninguém sabe o que raio é o padrão! Nem quando foi inventado. E quanto mais evoluímos, mais o padrão mata crianças e estrangula professores e angustia pais!
Os adultos quando são crescidos são jornalistas, advogados, artistas, médicos. São-no porque têm gostos diferentes. Dons diferentes. Apetências diferentes. Têm até ritmos de raciocínio, de pensamento diferentes. E ninguém está a dizer que um médico é maior ou menor que um advogado ou um artista.
Uma criança, na sua fase mais criativa, na fase mais importante de aprendizagem e de descoberta, de pujança de sentidos, não tem direito a isso. Tem o dever de pertencer a um padrão. E se a criança não estiver no padrão, temos de nos preocupar. Porque não faz igual aos outros! Está fora do ritmo! Do que é esperado dela. E o professor encostado a uma parede com a faca das metas, dos objectivos, dos currículos ao pescoço, sem conseguir chegar com o braço às crianças.
- A criança já devia andar!
- A criança já devia contar!
- A criança já devia ler!
- A criança já devia.................
Eu não quero que os meus filhos e os meus alunos façam igual aos outros! Eu quero que eles se descubram. Que eu os descubra. Que os professores deles os descubram. Eu quero que eles descubram o Mundo. Eu quero que eles explorem o espaço e o Mundo à sua volta e que os adultos respeitem o tempo deles. E o problema é que quem quer respeitar o ritmo de uma criança não pode! Porque estamos todos dentro de um sistema que não permite.
Porque não chamam ao pré-escolar Jardim Escola? E porque não chamar pré-escolar a um novo patamar antes da escola. Com 5 anos a criança passaria para o pré-escolar e ali ficaria até aos 7 anos! A fazer descobertas incríveis. A fazer ciência, jardinagem, construções. A trepar paredes e árvores. A aprender contas com as poças de água e as pedras do parque e a aprender letras deitada em almofadas. Enquanto ouve lenga-lengas e sonha com elas. A descobrir quais os seus dons. A observar os dons dos amigos. A absorver Mundo para dentro de si e a deixar Mundo no coração dos outros.
E depois disto, sentaríamos as crianças na sala de aula. Dar-se-iam as aulas no quadro, fazer-se-iam fichas nos manuais. Mas sempre que uma pergunta surgisse, sempre que algo acontecesse, sempre que o Mundo exigisse (o Mundo de uma criança) o professor pararia! Escutaria! Responderia! Com tempo, com vontade, sem pressa. Felicitaria as descobertas e os sucessos! Encorajaria a superação. Motivaria! Gritaria de alegria! Daria murros na mesa, mas de emoção!
Enquanto não pararmos de apontar o dedo às dificuldades, enquanto não pararmos para aplaudir os sucessos (os grandes e os minúsculos), enquanto decidirmos quem passa de ano ou quem devia ficar só através de uma data de nascimento, ou de uma suposta adequação (ou ausência dela) a um padrão, enquanto tentarmos encaixar as crianças como peças de puzzle dentro do padrão de um sistema retrógrado, imbecil e altamente desmotivador, vamos continuar a ter crianças frustradas, infelizes, desmotivadas, pais angustiados, desesperados e cansados e professores exaustos e desmotivados.
Só que eu não sei como fazer isto! E tenho muita pena de já não o poder fazer a tempo dos meus filhos.