07/03/2019

O que é Aproveitar a Vida?

“Aproveita a vida!” Estamos sempre a ouvir isto! Mas o que é aproveitar a vida? Trabalhamos 8h por dia, temos obrigações fora do trabalho, pagamos as nossas contas, ansiamos o fim-de-semana para descansar da correria... O que é concretamente aproveitar a vida? Como é que temos a certeza de o estar a fazer? E como se mede? 

Hoje mesmo, estou sem filhos, vim a sonhar com o meu jantar no sofá enquanto me enterro na manta a ver séries. Isto é aproveitar ou desperdiçar a vida? Não sei se estar enterrada num sofá será aproveitar a vida ao máximo! Mas... Teria eu de ir saltar de um pára-quedas? Assim? A meio da semana e à hora de jantar? 

Isso seria de certeza viver no limite! Mas não iria eu esgotar as maluquices todas em três tempos? 

Ainda por cima, aproveitar a vida ao máximo não é barato.... Quando se trabalha para pagar contas e... Ponto! Não se aproveita a vida assim? 

Pelo menos tenho a sorte de ter um trabalho que gosto! Pior era se tivesse de trabalhar só para pagar contas e ainda tivesse de fazer o frete 8h por dia, cinco dias por semana. 

Mas e então? Em que é que ficamos? 

Se eu morrer de repente, será que os meus amigos vão dizer “Ela é que soube aproveitar a vida!”?

Aproveitar a vida é fazer loucuras? Ou é cometer a loucura de aproveitar o que temos? 

Ser grato pelo que temos parece-me um bom começo! É melhor do que queixarmo-nos o tempo inteiro... 

Gostar do que se faz também me parece bem! Deve haver muitas pessoas por aí que odeiam os seus trabalhos...

Dizer “desculpa” quando é preciso e “adoro-te” sempre que quisermos também me parece uma óptima forma de não deixar nada por dizer caso a vida nos leve daqui para fora sem estarmos a contar! 

Apetecia-me imenso comer tudo o que me dá na gana... Mas se a vida for simpática comigo e me levar só quando eu for uma carcaça velha, estou feita.... Vou-me embora velha e gorda! Mas ao menos aproveitei? 

Adorava fazer tudo o que me apetece! (Não adorávamos todos?) Viajar para onde queria e sempre que quisesse. Não me preocupar com contas! Comer o que me desse na gana! Ajudar quem precisasse! 

Este conceito de “aproveitar a vida” parece um bocado caro...

Se calhar podemos começar por dizer aos nossos o quanto gostamos deles... Assim, só porque sim! E porque nos apetece. Podemos deixar de adiar todos os encontros que andamos a protelar há anos... 

Acho que vou cagar também nas linhas de pedagogia e educação e deixar os meus filhos dormirem na minha cama sempre que lhes apetecer. Em vez de lhes dizer que cada um tem de ter a sua cama. Sei lá eu quanto tempo de abraços prolongados de pijama nos restam... 

E quando o meu filho me pede para lhe dar banho? E eu lhe digo que já tem idade para tomar banho sozinho e que o tempo rende mais se ele tomar banho enquanto eu preparo o jantar? A partir de agora caguei nas idades próprias para o que quer que seja! E caguei na hora do jantar! Se ele quer que eu lhe esfregue as costas, esfreguemos as costas do filho! 

Preocupar menos com o tempo, menos com as rotinas. Acho que a espontaneidade é também um bom motor para aproveitar a vida. 

Comer no sofá de vez em quando não estraga a educação a ninguém. 

Chegar um minuto mais tarde ou ir para a cama dez minutos mais tarde não vai romper os protocolos. 

Enquanto não puder aproveitar a vida em viagens e saltos de pára-quedas, vou ali aproveitar com o que tenho e da forma que conseguir. 

Se me for desta para melhor num segundo fulminante e prematuramente não quero que os meus filhos digam que eu aproveitei a vida... Quero que eles digam que os aproveitei a eles! 


20/02/2019

Como é que se perdoa?

É uma das perguntas que mais me fazem quando me contactam a pedir ajuda. 

Perdoar! É também das coisas mais difíceis de fazer. Principalmente quando pancada é grande. 

As coisas não acontecem sempre como planeamos. A vida é assim em tudo, não apenas nos casamentos. Os motivos que levam ao desfecho do divórcio podem ser mil, mas o perdão está sempre presente no processo de cura. E é das conquistas mais importantes que precisamos ganhar. 

Não é possível fazê-lo de um dia para o outro. Mas é possível! 

Perdoar será o maior gesto de generosidade que podemos ter. Para eles e para nós, para um dia conseguirmos a nossa libertação. 

É fácil deitar as culpas para cima do outro. E por vezes fazemo-lo também para não encarar que nós somos tão somente metade dos envolvidos no processo. 

Independentemente das razões que levaram ao divórcio, independentemente de quem teve mais culpa. De quem se esforçou mais para que tal não acontecesse, ou até mesmo de quem não queria que lá se chegasse. É importante esquecermo-nos de quantificar culpas. Quantificar culpas só vai servir para atirar constantemente para cima do outro a total responsabilidade. Não interessa de quem é! Não interessa porquê. 

Temos de nos focar na realidade. O divórcio aconteceu? Pronto! Então vamos tratar de deixar de fazer disso a nossa cruz. 

Vamos tentar entender que é importante chegarmos a um entendimento com ele. Principalmente quando há filhos. 

Vamos tentar olhar para a frente. Perceber de que forma podemos construir uma nova relação que não tem de ser de amizade. Apenas cordial. Civilizada. Polite! Como dizem tão bem os ingleses. Uma relação “polida” suficientemente cerimoniosa mas cordial. 

A culpa? Essa vai morrer solteira. Atirem essa palavra para fora da equação. 

Vestir os sapatos do outro. Perceber que, de forma certa ou errada, todos temos o direito a voltar atrás. A cometer erros, a acertar. Todos temos o direito a mudar de direção. Mesmo que a direção dele não seja a mesma que a nossa ou não nos envolva no processo. 

Dói? Doi! Dói muito? Depende. Pode doer mais para uns do que para outros. Pode doer de formas diferentes. Não interessa. 

Curar a dor e investir no perdão. 


Quando esse dia chegar, tudo vai ficar mais fácil de ver e de viver. 



Também podem comprar o meu livro “Vais amar-te e respeitar-te e ser feliz depois que o divórcio vos separe” e ler mais sobre este tema! 

13/02/2019

Mais com menos dá mais!

Toda a gente sabe que os 175 melhores amigos que temos na adolescência baixam consideravelmente com o passar dos anos. Até atingirmos a maturidade (atenção que eu não disse maioridade) e percebermos que afinal só precisamos de poucos dedos para os contar. 

Também é verdade e sabido que é nas piores alturas da tua vida que tu percebes quem realmente tem estofo e amor (e coragem) para ficar ao teu lado e quem é que aparece no fim da tempestade com um enorme pedido de desculpas por ter estado super ocupado. 

Quando tudo está bem, quando a vida é fácil, é fácil ter muitos amigos. Principalmente quando és tu quem está melhor que eles. 

Experimenta lá, estar enfiado em merda até ao pescoço! Quero ver quantos é que enfiam as galochas para te ir dar alimento. 

A minha vida tem sido uma autêntica montanha russa. Com altos altíssimos, baixos baixíssimos. Uns percursos mornos pelo caminho. 

Tenho a sorte de contar com muito pouca gente. Sorte??? Sim! Mesmo que essa sorte signifique que já estive com merda até ao pescoço. A Natureza encarregou-se de fazer a sua limpeza. 

Não vou dizer que não doeu. Qualquer limpeza a nível emocional dói. Mas também nos fortalece. Nos faz fortalecer alicerces para que estejas preparado para o próximo abanão. Já sabes com quem podes contar. 

Não há nada melhor do que contar com alguém incondicionalmente. Dá-nos segurança, tranquilidade, conforto. 

Isso faz de nós mais confiantes porque sabemos que podemos cair à vontade ou subir à vontade. Aqueles que estarão lá para levantar o copo pelos teus sucessos, são os mesmos que estarão lá para se deitarem no chão, ao teu lado, e darem-te um abraço para que não tenhas frio. 

Com a idade a passar, a maturidade a aumentar e a vida a decorrer, vais acumulando experiência e descartando quem não interessa! Deve ser a única conta da vida em que: mais com menos dá mais! 

A todas as minhas (poucas) amigas, eu gostava de dizer que vos adoro! Que sou uma abençoada! Sortuda do carailho! Nem toda a gente tem o privilégio de ter tão poucas e tão boas amigas como eu!

Eu sei que vocês sabem que eu também cá estou incondicionalmente para vocês! Que sou a primeira a largar tudo por vocês! Para vos celebrar e para vos amparar! E já viram a sorte que têm? Já estive tantas vezes com merda até ao pescoço, que sei exactamente qual o caminho a seguir se algum dia tiver de vos deitar a mão para vos tirar dali para fora. 


Um viva às amizades escassas mas boas! 

28/01/2019

Breves considerações sobre o Tinder

Pois é! Este bicho careta resolveu modernizar-se. Principalmente depois de perceber que era a única solteira (entre pessoas por quem até tinha alguma consideração) que não estava lá. 

Conseguiram convencer-me que estamos no século XXI e que quem tinha de se adaptar era eu. 

Muito bem.... Meia a vergonha lá abri o meu perfil... Meia a medo... E se me descobrem lá? Olha... É porque também lá estão!

Por via das dúvidas, tive o cuidado de escolher fotografias que não comprometessem e que não chamassem muito a atenção. Vê-se a cara sem se ver os sinais, também não se vê lá muito bem o corpo. Não há cá decotes nem mamas em primeiro plano ou poses comprometedoras (ou prometedoras!). Até porque eu não prometo nada a ninguém, aliás, os indivíduos são imediatamente avisados (após o devido Match e início de conversa) que tenho 2 filhos, um cão e não dou cambalhotas à rambo em casas-de-banho públicas. Isto dá logo margem para fazerem marcha a ré caso tenham vindo atrás de alguma artista de circo. 

Posto isto, daremos início às breves considerações. 

. Como é que aquilo se processa? Aparecem-te as fotografias dos machos. Vês os perfis, analisas ao detalhe as fotos (algumas não precisam de análise, um nano-segundo e está decidido!) se te agrada, arrastas a foto para a direita (é um Sim!) se não te agrada, arrastas para a esquerda (é um não!). Se te agrada incrivelmente e tens a certeza que encontraste um candidato com extremo potencial, arrastas para cima, ele ganha um Super Like e é notificado que o recebeu. (Nunca dei nenhum!)

. A parte boa é que eles só percebem que fizeste um like se te fizerem também é então dá-se o Match. Caso contrário, nunca vão sequer saber que os viste. 

. A pesquisa é feita por idade e raio de kms. Se fores como eu, em 1000 perfis, metes 2 likes. Rapidamente esgotas os perfis à volta da tua rua. Tive de alargar a distância e a idade até ao máximo para voltarem a aparecer perfis. A única coisa chata é poder aparecer algum tipo com potencial mas que mora a 150kms de ti ou encontrares algum amigo do teu pai. 

. A quantidade de tipos conhecidos e até amigos que nem fazias ideia que lá andavam, é GINÓRMICA! Por um lado ficas envergonhada porque percebes que eles te vão ver ali também. Por outro faz-te corroborar a ideia de que eras mesmo a última solteira que não andava lá. 

. 5€ por cada gajo CASADO que tu conheces e que encontras lá! (Precisava trocar de carro e dava-me jeito...) 

. Um like nos Ex’s. Só para ver se eles também metem! (E metem!) 

. 1€ por cada selfie na casa-de-banho em tronco nu e eu comprava a Santogal inteira. 

. Adorava poder dizer aos homens que as selfies com boquinha-de-pato não são sexy! 

. Adorava dar um par de tabefes aos que metem fotos com os filhos só porque sabem que as fotos ficam mais fofas.... (depois de lhes dar um tabefe, avisava as mães das crianças! Aposto que nem fazem ideia...) 

. Perfis com 10 fotografias vão logo com um não! Ninguém aguenta homens vaidosos... 

. Perfis de casais só deveriam aparecer a quem procura casais! É um bug do sistema, está visto! 

. Fotos de cãezinhos também são fofas, mas uma pessoa não anda à procura de um cão! Para isso ia ao canil... A cara do dono dava mais jeito. 

. Ficamos a conhecer as casas-de-banho todas do país. E os elevadores! (Mas com as mulheres deve ser igual...) 

. Quando o perfil até tem potencial, as fotografias são giras, o gajo tem um ar normal, não mete frases clichê na descrição mas no fim mete a altura. Como se não te sentisses já no talho a escolher a peça do catálogo, ainda levas com o calibre. Leva logo um não! 

. Perfis que falam demais! Com demasiadas descrições, demasiadas frases feitas... NÃO! 

. Selfies dentro do carro, sim! À porta do carro para exibir a máquina que, provavelmente nem é deles, é de vómito! 

Para concluir! Aquilo nem é mau. Está mesmo muita gente lá! É quase como ir ao bar que toda a gente frequenta mas estas sentada no sofá e metes logo conversa. 

Sou super esquisita... Em 5.000 perfis que me passaram à frente, devo ter posto 30 likes. Só alguns deram match e menos ainda deram encontros. 

Não sei se serve para encontrar aquela pessoa! Provavelmente não! Embora haja quem sim! Mas fazem-se amigos. Tem-se conversas giras. Conhecem-se pessoas interessantes que não se conheceria de outra forma. 

Num fundo, é um entretém. Se for usado com pés e cabeça, pode ser divertido! 


23/01/2019

A minha filha tem 10 anos e tem telemóvel

A minha filha tem 10 anos e tem um telemóvel. 

É verdade! Apesar de eu ter tido o meu primeiro com 17 anos. E de ter achado sempre que ela não ia precisar de um antes dos 16. (As mães gostam sempre de arrotar postas de pescada...) 

A troca de escola para o 2.º ciclo fez-me tomar essa decisão que, por mim e pelo pai, não seria tomada tão cedo. Mas o facto de ela ter amigas desde a sala de 1 ano, fez com que eu achasse que não deveria perder o contacto com elas. 

Por isso, sim! A minha filha com 10 anos tem um telemóvel. 

Mas a minha filha sabe que o telefone não se usa quando estamos à mesa. Mesmo que seja num restaurante. Mesmo que seja num café. 

Ela sabe que o telemóvel não se usa quando estamos a conversar. Porque as conversas são para se ter olhos nos olhos. 

Ela sabe que o telefone não se leva para a escola porque a escola é para se estudar e brincar com os amigos no tempo em que não estão em aula. 

Ela sabe que, se saírmos para um programa, o telefone não precisa ir porque é suposto estarmos em família e não em tecnologia. 

Ela sabe que o telefone não vai à noite para o quarto com ela porque a cama é para descansar e dormir. 

Ela sabe que o telefone pode ser usado antes do jantar para falar com as amigas desde que os trabalhos estejam feitos e o banho tomado. 

Ela sabe que quando eu peço para arrumar o telefone, é melhor arrumar à primeira para não ter de ficar sem ele dois dias. 

Ela sabe que o mínimo deslize nas suas obrigações dão direito a uma temporada sem telefone. (Duração da temporada conforme a gravidade do deslize!) 

A minha filha tem 10 anos e tem um telemóvel. Mas isso não lhe dá direito de propriedade sobre o mesmo. As regras continuam a ser nossas (do pai e minhas!). O tempo é controlado! As aplicações estão controladas. Até as conversas são por vezes abertas só para ter a certeza que tudo decorre em conformidade com a sua idade. 

Não! Não é invasão de privacidade! É algo que ela sabe que é feito. É feito à frente dela. E é-lhe explicado tudo o que achamos que não é adequado à sua idade e porquê. 

Se se passa tudo bem todos os dias? Claro que não! Nem sempre aceita que tenha de guardar o telefone. Nem sempre percebe porque é que não pode pegar no telefone antes de ir para a cama. (Quando os amigos dela continuam no WhatsApp até às 23:00)

A minha filha tem 10 anos e tem um telemóvel! Mas o regime cá de casa é autoritário. Por isso, ou funciona com as regras que eu defino com o pai. Ou deixa de haver facilitismos. 

É bom os nossos filhos crescerem na realidade temporal que lhes calhou. É bom que a evolução tecnológica seja acompanhada. Mas não podemos deixar os nossos filhos transformarem-se em pequenos zombies com ataques de ansiedade quando não estão ligados às máquinas. 

Tenho visto muitas crianças obcecadas com os telefones e tablets. E muitos pais que preferem nada fazer para não entrarem em conflito com os próprios filhos. 

Um dia, quando eles não souberem enfrentar uma adversidade da vida real (sem pistolas, técnicas de luta e efeitos sonoros), quando eles não tiverem inteligência emocional para lidar com os conflitos e as desilusões da vida real. Quando eles não escutarem os pais porque nunca foram obrigados a tal, os pais vão finalmente entender o erro que foi deixá-los agarrados aos telefones para evitar conflitos. 


Espero que ainda vamos a tempo de emendar isso! 

21/01/2019

O Arquétipo da Felicidade

Quando o sol bate na cara
E a chuva pára para passares 
E encontras uma moeda no chão 
E o senhor simpático te deixa passar.  

Quando o almoço está mesmo bom 
E a tua amiga te telefona 
E o teu filho te dá um beijo
E a cama cheira a lavado. 

Quando o banho é demorado 
E uma flor brota do chão 
E o pão ainda está morno 
E no rádio passa a tua canção. 

Quando a casa está em silêncio 
E as almofadas estão arrumadas 
E o bolo coze no ponto 
E o cabelo acorda ordenado. 

Quando o ordenado te cai na conta 
E o mar está espelho 
E a cidade está bonita 
E o depósito está cheio. 

Quando encontras logo um lugar 
E a senhora segura a porta
E o café está bem tirado 
E o vento cheira a calor. 

Quando acordas sem relógio 
E aquela mensagem de bom dia
E a luz entra no quarto 
E o cheiro do café. 

Quando pões aquela camisola 
E cheira a castanhas na rua 
E um cão bebé no colo 
E dás de caras com a lua. 

É tão fácil ser feliz!
Basta abrir os olhos

E ver o que o Mundo nos diz!

20/01/2019

Quando olhas para mim e pensas que viste tudo

Quando olhas para mim e pensas que viste tudo, na realidade não viste absolutamente nada. 

Quando olhas para mim e achas que viste tudo, não imaginas tudo o que está por trás da primeira imagem que vês. 

Não imaginas a quantidade de coisas que tive de viver primeiro para ser aquela que estás a ver hoje. 

Quando olhas para mim e achas que viste tudo, não imaginas a quantidade de força que fui conseguindo armazenar ao longo de cada batalha que venci. (E olha que foram muitas!)

Quando olhas para mim e achas que viste tudo, não imaginas o tipo de mulher que se instalou dentro de mim. 

Quando olhas para mim e achas que viste tudo, não tens noção da quantidade de coisas que consigo fazer ao mesmo tempo, sem um único queixume. 

Quando olhas para mim e achas que viste tudo, não sonhas o quanto eu consigo rir e ser feliz com as pequenas coisas da vida, mesmo quando está tudo a desmoronar à volta. 

Quando olhas para mim e achas que viste tudo, não tens noção da dose de resiliência que está aqui, pronta para enfrentar a próxima adversidade. As pequenas e as maiores. 

Quando olhas para mim e achas que viste tudo, não te passa pela cabeça que, por muito que me saiba bem um abraço reconfortante de vez em quando, consigo mover montanhas para ter a certeza que não falta nada aos meus filhos. 

Quando olhas para mim e achas que viste tudo, não imaginas o quanto sou feliz com tudo o que tenho e o quanto valorizo tudo o que me aconteceu, porque sei que tudo isso faz aquela em que me tornei. 

Por isso, quando voltares a olhar para mim, não penses que já viste tudo. Não penses que sabes perfeitamente com quem estás a lidar. 

Primeiro vais ter de descobrir as minhas piadas secas, aguentar as minhas loucuras, entender os meus devaneios sem sentido, ouvir o meu silêncio, perceber que os meus filhos virão sempre primeiro que qualquer outra pessoa, conseguir acompanhar o meu passo e entender o que te digo com os olhos. 

Porque o tudo que eu sou, não é visível a olho nu. Nem em partes de tempo que não são suficientes para caber tudo lá dentro. 


11/01/2019

Sobre o consentimento

Sobre o consentimento 

Parece que o sexo sem consentimento não é considerado violação. 

A mim parece-me que o que quer que seja que aconteça sem consentimento é obviamente uma violação. Violação de espaço, violação de privacidade, violação de dados, violação do direito de não consentir. 

Para que o que quer que seja não seja violação é preciso que o outro consinta! Certo? Parece-me óbvio! Mas parece-me também que não é assim tão óbvio para algumas pessoas. 

Para evitar que um ser humano (homem ou mulher) faça uma violação, qualquer que seja, a outro ser humano (homem ou mulher) é preciso que sejam educados e sensibilizados para tal. (Claro que depois existem patologias... Mas isso são excepções) 

Quando? Não, não é na adolescência! É desde o berço! 

E não é a dizer às meninas que têm de se proteger dos meninos ou aos meninos que não podem abusar das meninas. Até porque as violações acontecem de formas variadas e de ambos os lados. 

É fazer ver nos recreios das escolas que não podem puxar um amigo quando ele lhe diz para parar. 

É fazer ver nas praias que não podem tirar os baldes aos outros meninos se eles não quiserem emprestar. (E não! As crianças não são obrigadas a emprestar! Nós também não gostamos de emprestar algumas coisas pelas quais temos muita estima e eles têm o direito a isso também!)

E mesmo quando estão apenas a tentar ser afectuosos com os outros e estão apenas a receber um empurrão de volta, temos também obrigação de explicar à criança que tem de parar. Não é a criança que empurra a criança afectuosa que está errada. Nenhuma delas está! Mas a criança que não quer ser abraçada por outra tem o direito de não querer. E a outra tem de aprender a respeitar. 

Não estou a falar do tal beijo ao avô! Isso é outra conversa que daria outro (ou outros. 


Por isso, vamos ensinar os nossos filhos a respeitarem qualquer ser humano, o seu espaço, a sua vontade, a sua crença, os seus valores, as suas preferências mas também a respeitarem-se a si próprios. Em vez de nos preocuparmos em ensinar as filhas adolescentes que têm de se proteger dos rapazes.

25/12/2018

Amanhã vai saber-me bem! Hoje ainda não!

É dia 25 de Dezembro. Volto para casa com as mãos vazias. Para uma casa vazia. 

No quarto deles ainda há roupa do Natal atirada para cima da cama à espera que eu cuide dela. Brinquedos espalhados pelo quarto, da manhã que passaram a brincar com eles pela primeira vez, antes de sairmos de casa apressados para irmos para o almoço de Natal. 

À noite, depois de quase 48 horas numa azáfama cheia de Natal e de vida, só está a casa. E o cão. E eu! 

Há 6 anos que é assim. E desde o Natal passado que eu sabia que hoje ia voltar a ser assim. 

O Pai veio buscá-los para uns dias de mimo, de brincadeiras, de tempo só deles. E eles foram tão felizes! E eu gosto tanto disso! 

Mas os anos passam e eu não me habituo. A isto! Ao 25 de Dezembro de mãos vazias. No Verão não custa tanto... É o Inverno! Este maldito inverno que me dá a volta. 

Amanhã já estou bem! Amanhã já encarnei o meu papel na minha vidinha pacata de solteira. 

Amanhã vai saber-me bem chegar a casa sozinha. Amanhã vai saber-me bem ter a televisão só para mim. Amanhã vai saber-me bem receber as fotografias deles nas suas brincadeiras. Amanha vai saber-me bem não ter obrigações. Amanhã vai saber-me bem ter silêncio. 


Hoje não! Hoje o silêncio é ensurdecedor. Hoje o vazio é arrebatador. Hoje não... 

14/12/2018

Devia ser obrigatório as madrastas substituírem as mães

Quem diz que as madrastas não substituem as mães, está a mentir. 

As madrastas substituem sim! E se não substituem, deviam fazê-lo! 

O tempo das madrastas más ficou na era da Cinderela. Hoje em dia as madrastas são porreiras. As madrastas são fixes. Muitas vezes, mais fixes que as mães. 

É importante que as mães entendam que os filhos adoram as mães incondicionalmente tal como as mães fazem com eles. Assim que as mães conseguirem fazer este exercício, vão ter segurança suficiente para entender que as madrastas não ocuparão nunca o seu lugar. O coração das crianças é muito maior que o dos adultos e por isso tem espaço para todas as pessoas de quem gostam. 

Assim que as mães entenderem que as madrastas não estão em competição com o lugar no coração dos filhos, as mães vão pedir por favor para as madrastas as substituírem. 

Mas porque é que as mães deveriam querer uma coisa destas? 

Substituir significa estar no lugar de. Se pensarmos que as madrastas só estão com os nossos filhos quando nós não estamos, percebemos que sermos substituídas por elas é bom. 

Quando nós não estamos, é bom sabermos que há uma figura materna (feminina se preferirem) a dar-lhes mimo quando se magoam. É bom sabermos que essa pessoa lhes vai pedir que comam a sopa até ao fim, que tomem banho, que verifiquem se lavaram bem os dentes. É bom sabermos que eles têm alguém que lhes tire a dúvida do trabalho de matemática, que os obrigue a vestir o casaco para irem à rua ou que os ajude a secar o cabelo. É bom sabermos que está lá uma pessoa que se vai sentar no sofá a ver um filme com eles, que lhes vai apertar o capacete da bicicleta e que lhes vai dar um lenço para assoar o nariz. Provavelmente vai ter mais paciência para jogar monopólio com eles porque é possível que esteja menos vezes com eles também. É bom saber que está alguém com eles que sabe como gostam do pão ao pequeno-almoço ou que não querem azeitonas na pizza. Que vai controlar os horários da cama e que lhes vai dar um beijo de boa noite e dizer-lhes para terem bons sonhos.

Mas o pai não é capaz de fazer o mesmo? Claro que é! Óbvio que é! E faz! Mas se a madrasta lá está, queremos que ela o faça também. Queremos que seja a madrasta porreira e fixe (muitas vezes mais fixe que a mãe) e não a madrasta da Cinderela. 

Por isso, sim! Devia ser obrigatório as madrastas substituírem as mães! 

Devia ser obrigatório as mães darem esse espaço às madrastas. 


Devia ser obrigatório os filhos sentirem que podem gostar das madrastas (quase) tanto quanto gostam das mães. Ou pelo menos entenderem que as mães não vão ficar melindradas por eles gostarem delas tanto quanto elas couberem nos seus corações. Mas isso já é responsabilidade das mães. Não é das madrastas. Nem dos filhos.