“Aproveita a vida!” Estamos sempre a ouvir isto! Mas o que é aproveitar a vida? Trabalhamos 8h por dia, temos obrigações fora do trabalho, pagamos as nossas contas, ansiamos o fim-de-semana para descansar da correria... O que é concretamente aproveitar a vida? Como é que temos a certeza de o estar a fazer? E como se mede?
Hoje mesmo, estou sem filhos, vim a sonhar com o meu jantar no sofá enquanto me enterro na manta a ver séries. Isto é aproveitar ou desperdiçar a vida? Não sei se estar enterrada num sofá será aproveitar a vida ao máximo! Mas... Teria eu de ir saltar de um pára-quedas? Assim? A meio da semana e à hora de jantar?
Isso seria de certeza viver no limite! Mas não iria eu esgotar as maluquices todas em três tempos?
Ainda por cima, aproveitar a vida ao máximo não é barato.... Quando se trabalha para pagar contas e... Ponto! Não se aproveita a vida assim?
Pelo menos tenho a sorte de ter um trabalho que gosto! Pior era se tivesse de trabalhar só para pagar contas e ainda tivesse de fazer o frete 8h por dia, cinco dias por semana.
Mas e então? Em que é que ficamos?
Se eu morrer de repente, será que os meus amigos vão dizer “Ela é que soube aproveitar a vida!”?
Aproveitar a vida é fazer loucuras? Ou é cometer a loucura de aproveitar o que temos?
Ser grato pelo que temos parece-me um bom começo! É melhor do que queixarmo-nos o tempo inteiro...
Gostar do que se faz também me parece bem! Deve haver muitas pessoas por aí que odeiam os seus trabalhos...
Dizer “desculpa” quando é preciso e “adoro-te” sempre que quisermos também me parece uma óptima forma de não deixar nada por dizer caso a vida nos leve daqui para fora sem estarmos a contar!
Apetecia-me imenso comer tudo o que me dá na gana... Mas se a vida for simpática comigo e me levar só quando eu for uma carcaça velha, estou feita.... Vou-me embora velha e gorda! Mas ao menos aproveitei?
Adorava fazer tudo o que me apetece! (Não adorávamos todos?) Viajar para onde queria e sempre que quisesse. Não me preocupar com contas! Comer o que me desse na gana! Ajudar quem precisasse!
Este conceito de “aproveitar a vida” parece um bocado caro...
Se calhar podemos começar por dizer aos nossos o quanto gostamos deles... Assim, só porque sim! E porque nos apetece. Podemos deixar de adiar todos os encontros que andamos a protelar há anos...
Acho que vou cagar também nas linhas de pedagogia e educação e deixar os meus filhos dormirem na minha cama sempre que lhes apetecer. Em vez de lhes dizer que cada um tem de ter a sua cama. Sei lá eu quanto tempo de abraços prolongados de pijama nos restam...
E quando o meu filho me pede para lhe dar banho? E eu lhe digo que já tem idade para tomar banho sozinho e que o tempo rende mais se ele tomar banho enquanto eu preparo o jantar? A partir de agora caguei nas idades próprias para o que quer que seja! E caguei na hora do jantar! Se ele quer que eu lhe esfregue as costas, esfreguemos as costas do filho!
Preocupar menos com o tempo, menos com as rotinas. Acho que a espontaneidade é também um bom motor para aproveitar a vida.
Comer no sofá de vez em quando não estraga a educação a ninguém.
Chegar um minuto mais tarde ou ir para a cama dez minutos mais tarde não vai romper os protocolos.
Enquanto não puder aproveitar a vida em viagens e saltos de pára-quedas, vou ali aproveitar com o que tenho e da forma que conseguir.
Se me for desta para melhor num segundo fulminante e prematuramente não quero que os meus filhos digam que eu aproveitei a vida... Quero que eles digam que os aproveitei a eles!