17/06/2018

Porque é que nunca me explicaram assim?

Ontem estive numa formação sobre os Touchpoints do Dr Brazelton. (Aquele super mega guru da pediatria mundial)

Basicamente, e muito resumidamente, estive a tentar perceber melhor como funciona a cabeça de um bebé e o seu desenvolvimento.

A dada altura falou-se das cólicas. Há milhões de teorias sobre a fase das cólicas nos recém-nascidos. Há milhões de teorias que tentam explicar a razão de existirem. Sejam elas quais forem, há tantos outros milhões de mães a sofrer com as mesmas. Seja porque o bebé berra uma noite seguida, seja porque o bebé chega ali às 18:00 e, sem ninguém entender porquê, começa aos berros durante horas seguidas. As mães sofrem com o sofrimento deles, mas também sofrem de cansaço e de desespero.

Quem estava a dar a formação era a Prof. Ana Teresa Brito. Minha professora e orientadora de estágio na faculdade. (Há muitos anos... Mas não interessa agora contá-los!) Além de ser das pessoas mais humanas e generosas que conheço, também é das pessoas que mais sabe sobre a 1ª Infância neste país. A sua explicação para as cólicas foi a explicação mais simples que já ouvi na vida! Talvez a que faça mais sentido! E, se me tivessem dado esta explicação quando os meus filhos tiveram cólicas, talvez eu tivesse tido muito mais empatia com a dor deles. E essa empatia teria gerado muito mais compreensão e menos cansaço em mim, que desesperei a cuidar deles!

Um bebé passou 9 meses dentro da barriga da mãe. Passou 9 meses a uma temperatura mais ou menos estável, em meio aquático, a ser alimentado constantemente pelo cordão umbilical, protegido da luz, do ruído, do frio, do calor, de todos os estímulos existentes neste Mundo.

De repente o bebé sai da barriga da mãe! Puf! Está fora do meio aquático. Tem de habituar o seu corpo e a sua pele ao ar. Tem de gerir as diferenças de temperatura, a fome, o sono, o colo da avó, dos irmãos, dos pais, das vizinhas. Tem de gerir o barulho das vozes de todas as outras pessoas (e toda a gente esganiça a voz para falar com eles, coitados!). O barulho da televisão, do trânsito. A luz do dia e o escuro da noite. Tem de gerir o seu corpo a funcionar de forma diferente. Porque agora respira, engole, faz cocó e xixi. O bebé tem de gerir todo o que lhe é apresentado nesta nova vida e tudo o que lhe acontece por dentro e por fora!

Já pensaram no stress que causa a cada bebé? A pressão pela qual o bebé passa?

Imaginem atirar-nos para dentro de uma empresa. Primeiro dia de trabalho. Ter 100 pessoas que querem vir cumprimentar o novo colega, a despejarem os seus nomes para cima de nós (que não conseguimos decorar nem um) a despejarem toda a informação de como funciona cada departamento e onde podemos encontrar tudo o que precisamos. Agora imaginem que tudo isto acontecia numa cidade nova, numa língua que nem sequer é a nossa! E ao fim do dia nem sequer sabíamos bem qual o caminho para voltar para casa.

Já pensaram na tremenda dor de barriga que sentiríamos com a ansiedade? E a tremenda dor de cabeça que iríamos ter no final do dia! Mais o cansaço do corpo e da cabeça por toda a informação que tivemos de reter ao mesmo tempo!

Se nós adultos íamos querer um analgésico, com um copo de vinho e um sofá em silêncio depois de 8h disto! Imaginem os bebés aos fim de 3 semanas. Após aterrarem na nova família, na nova vida, no novo Mundo!

Eu juro que, depois de ouvir esta explicação, me apeteceu ir abraçar os meus filhos e pedir-lhes desculpa por todas as vezes que desesperei com o choro deles! E pelas vezes que me apeteceu atirá-los pela janela porque já não conseguia ouvir os berros! Porque é que não me deram esta perspectiva há 10 anos?

Bolas!!!










Sem comentários: