É um sítio muito especial que acolhe as famílias de crianças hospitalizadas que moram longe e não têm onde dormir enquanto acompanham os filhos em internamentos prolongados. É uma casa longe de casa.
Parámos à entrada da CRM para me explicarem a Árvore. Na árvore podemos ver todas as empresas que ajudam a Fundação Ronald McDonald a sustentar a casa (há uma em Lisboa e outra no Porto) e a dar apoio a estas famílias.
O Rodrigo chega acompanhado pelo pai, Elídio. Tem 18 anos. (Disse-me ele orgulhoso!) a mãe, Júlia, está na cozinha a preparar alguma coisa para comerem porque vão hoje dormir a casa em Vila Nova de Milfontes. O Rodrigo tem sorte porque já só vem à CRM uma vez por mês para fazer tratamentos no Hospital.
Cada um destes corações representa as empresas queridas que fazem que com que tudo isto seja possível. |
O Rodrigo chega acompanhado pelo pai, Elídio. Tem 18 anos. (Disse-me ele orgulhoso!) a mãe, Júlia, está na cozinha a preparar alguma coisa para comerem porque vão hoje dormir a casa em Vila Nova de Milfontes. O Rodrigo tem sorte porque já só vem à CRM uma vez por mês para fazer tratamentos no Hospital.
A porta da rua abre-se novamente. Entra uma família inteira! O Mário está de máscara. Tem de proteger-se de infecções. O pai Francisco e a mãe Lúcia têm um olhar simpático e acolhedor. A Luzinha é a mana pequenina! Tímida e traquina. Tanto nos seduz com um olhar irresistível como foge para trás das pernas da mãe para se esconder quando nos metemos com ela.
Sento-me numa sala confortável. Enorme! Há sofás para toda a gente! Uma luz agradável. A televisão está desligada e a conversa começa a fluir.
Pergunto ao Rodrigo se posso tratá-lo por tu.
- Sim! Claro que sim!
Miúdo giro! Loiro e de sorriso fácil.
- Que idade tens Rodrigo?
- Já tenho 18 anos!
- Como vieste aqui parar?
- Tive um linfoma.
É com esta naturalidade que ele fala. Teve um linfoma! Enquanto eu engulo em seco, não lhe vi um único trejeito de auto-comiseração! Em vez disso mostrou-me os dentes num sorriso tímido mas rasgado! Como é possível?
- E a casa?
- Já só cá venho uma vez por mês. Os meus pais é que passaram cá mais tempo enquanto eu estive no hospital.
Elídio olha para o filho. Vê-se o orgulho que transporta no olhar! Não imagino o alívio que também deve sentir! Diz que foram tempos muito difíceis e que ajudou bastante ter este apoio. Poder partilhar vivências com outros pais na mesma situação. Ter um sítio que não é a casa deles mas que é casa! Um canto para terem as suas coisas, saberem que ao fim do dia têm um sítio confortável e acolhedor para onde podem voltar depois das lutas imensas no Hospital.
A família do Mário está toda junta! O Mário está sentado ao meu lado e a pequena Luz vai saltitando de colo em colo.
- E tu Mário? O que tiveste?
- Estou a recuperar. Estive um mês internado.
- Então? Foi complicado?
- Não! Fiz um transplante pulmonar. Já estou quase bom!
Riu-se em tom de ironia! Acaba por desabafar que a vida dele não foi fácil principalmente no último ano. Cheio de saudades dos amigos, da namorada e de fazer BTT! Vai ao telemóvel buscar uma fotografia de uma bicicleta laranja linda para me mostrar! Acaba também por revelar que é artista e mostra-me fotografias de quadros pintados por ele. Fico atónita com o seu talento!!! O pai Francisco conta cheio de orgulho que ele até já fez uma exposição no Centro de Saúde de Vila Verde.
Fibrose Quística! Foi este o nome que atiraram para cima desta família quando o Mário tinha apenas 3 dias de vida. Já se passaram 17 anos entretanto. Lúcia e Francisco estavam prontos para sair do hospital com o seu bebé tão desejado. Prontos para uma nova aventura. Mal sabiam do tamanho da aventura que os esperava. O bebé recém-nascido teve uma infecção pulmonar. Acabaram por descobrir a doença e serem preparados pelo médico (que já está reformado mas continua a ligar para saber do Mário) para a dura realidade que aí vinha.
Esta família veio de Braga! Pergunto quais são as profissões deles. Francisco trabalha nas obras e Lúcia é costureira. Teve de ser! Tinha de cuidar do filho e só podia trabalhar a partir de casa.
Lúcia tem de ir para a cozinha fazer o jantar da família. O Mário só pode comer comida confeccionada pela mãe em casa. A pequena Luz corre atrás da mãe e eu continuo a beber a energia fantástica deste pai e deste filho.
- Que bom poderem estar aqui os quatro! Juntos!!! - digo eu.
- Sabe, nós somos uma família! Se é para sofrer, sofremos juntos! Quando é para festejar também festejamos juntos! Não podemos estar uns sem os outros.
Engulo em seco! Em poucas frases Francisco disse TUDO...
Entretanto chega Sandra a casa. A Sandra foi mãe pela segunda vez em Dezembro. O pequeno Francisco nasceu com uma fenda na traqueia. Uma malformação muito rara. Está internado desde então. Já fez duas cirurgias. A primeira não correu bem... Sandra é a mãe mais antiga da casa, já lá está há quase um ano. A família vive em Tomar e Sandra costuma ir e vir de comboio.
- É rápido! Uma hora e pouco estou lá.
A Joaninha de 3 anos costuma vir nas férias ter com a mãe à casa, às vezes até vem passar o fim-de-semana. A mãe vai-se revezando com o pai Marco para poder estar também com a filha. Sandra está a fazer sopa para o seu jantar e cheira a comida caseira na cozinha. Apetece sentar com eles a jantar.
É impressionante a organização da cozinha. Cada família tem um símbolo. O símbolo está à porta do quarto, nos armários da despensa, nos frigoríficos, no exaustor. Cada frigorífico serve duas famílias.
- Tu tens de dormir com máscara? Isso deve fazer calor...
- Já estou habituado. Não me custa. Mas tiro para dormir. À noite dormem os meus pais com máscara para eu poder descansar disto!
Olho deslumbrada para estas famílias! Cada uma com a sua história! A energia que se sente naquela casa não é explicável.
Vi cansaço. Mas não vi desespero. (Possivelmente esse, já ficou para trás) Vi energias positivas. Vi optimismo. Vi garra. E Amor! Vi tanto amor!!! Vi famílias lutadoras, unidas, vividas, vencedoras.
Vi uma equipa fantástica que veste a camisola e trabalha com o coração.
Vi uma casa que oferece conforto nas horas mais duras. Que oferece intimidade. Que oferece refúgio. Que oferece colo. Vi tudo isto, mas a maior parte não vi com os olhos, senti com o coração.
Voltei para Cascais no meu carro. Nem fui capaz de ligar o rádio. Pensei na sorte que tive de me cruzar com estas pessoas fantásticas. E sobretudo na sorte que tenho por ter dois filhos saudáveis.
Vou ali abraçá-los!
1 comentário:
Obrigada kiki por partilhares esta realidade.
Fiquei com vontade de la ir e de alguma maneira contribuir para a causa, sabendo que quem ganhria mais no fundo seria sempre eu. Obrigada
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