06/05/2011

Decisões difíceis de tomar...

Quando era Educadora (sim! com letra maiúscula!) também fiz parte da Comissão de Protecção de Menores. Era um trabalho que achei, na minha doce ingenuidade, que seria fascinante e estava pronta para mudar o mundo e salvar uma data de crianças e famílias.

Certo é que, a realidade é bem diferente daquilo que imaginamos. Há até realidades que não somos sequer capazes de imaginar que existem e tão perto da nossa casa. A minha colaboração com a Comissão não durou muito infelizmente... Acabou no dia em que uma colega foi retirar 3 crianças a um pai. Era uma situação extremamente complicada e macabra que metia violência, álcool, sexo e crianças... Estas palavras na mesma frase não combinam... E este pai foi à Comissão pedir satisfações. Foi a primeira vez que vi uma caçadeira à frente, foi a primeira vez que vi raiva nos olhos de um homem e foi a primeira vez que me apercebi do quão sou agarrada à minha vida.

Este episódio foi muito marcante na minha vida... A partir daí nunca mais consegui pôr os pés dentro da Comissão. Sempre que chegava o dia de ir para lá tinha dores abdominais horrorosas, vomitava, a cabeça parecia que rebentava... Enfim... Tive mesmo de me vir embora. Tive de optar entre ter uma vida tranquila, ou andar a esconder-me atrás de árvores ou prateleiras de supermercado cada vez que me cruzava com alguém de alguma família que eu estivesse a acompanhar. (É que ainda por cima, eu trabalhava na Comissão da minha área de residência, o que ainda complicava mais o boneco!) Tive (e tenho) muita inveja e muita admiração pelas minhas colegas! Pela coragem que têm, pela força e dedicação com que trabalham.

As pessoas dizem muitas vezes mal dos técnicos das Comissões de Protecção de Menores, mas não sabem que aquele é um trabalho voluntário. Que as pessoas abdicam de tempo do seu trabalho para lá estarem e não recebem um tostão a mais por isso, que quando vão fazer visitas aos domicílios têm de ir com um carro da GNR atrás porque nunca se sabe o que nos espera ou o que estará por trás da porta, que é preciso passar dias inteiros em tribunais para acompanhar as audiências e conhecer o destino das crianças, muitas vezes institucionalizadas. As pessoas não têm noção das ameaças que se recebe, das coisas horrendas que têm de ver, ouvir e assistir. Mas o pior mesmo é que estão crianças no meio de tudo isto! E é por elas que estas pessoas trabalham! Para as proteger!
Eu não tive essa bravia...

Enfim! Tudo isto para chegar a um episódio que se deu hoje. O meu olho mais técnico fez-me desconfiar (já desde o ano passado) que uma determinada criança da escola da Gigi deveria estar sinalizada na Comissão. Por diversas situações que assisti, ouvi, etc... Hoje, assisti a uma cena que pôs gravemente em causa a segurança da criança e a integridade física dela já do lado de fora da escola e pensei que não podia ficar calada!
Agarrei no telefone para ligar para a educadora mas detive-me por minutos...
Quem era eu para me meter naquele assunto?
Eu nem conhecia a história de vida daquela criança...
Eu nem tinha a certeza de que ela estaria sinalizada...
Mas aquilo foi tão grave e mexeu tanto comigo que, como mãe, como Educadora e educadora e como ex-técnica da Comissão senti que não devia ficar quieta.
A minha suspeita confirmou-se! A educadora agradeceu imenso eu ter ligado e disse que era um dado importante para o dossier da criança. Que o processo já estava em audiências no tribunal e que ela ia ter essa informação em conta. E eu pior fiquei... Porque se calhar vou ajudar a tirar aquela criança de uma terrível realidade mas se calhar vou ajudar a retirarem um filho a uma mãe... E isso, hoje, faz-me ainda mais confusão...
E agora tenho o meu coração bem apertadinho sem saber se sorrio ou se choro...

****

5 comentários:

http://analourenco.blogspot.com disse...

Olá Carolina,
Tenho visitado o teu blog e confesso que estou tua fã.
Manifesto o meu apreço pela tua generosidade, sensibilidade e enfim MÃE, mulher a 10000000%.
Parabéns pela coragem por publicares as tuas duvidas, incertezas e focares um assunto tão delicado, tão sensível, .....Sou voluntária já lá vão 6 anos numa Instituição que recebe essas pequenas crianças frágeis, revoltadas, frustradas, sem afecto; no fundo nunca foram amadas. Sei exactamente o que estás a sentir, mas a tua acção foi eloquente.
Quem sou? perguntas tu?! A mãe do Francisco Rego - lembras-te!!?

Recebe um grande abraço e muitas mas muitas felicidades para ti e familia.
Se um dia precisares de desabafar sobre estas matérias e nos momentos de duvida podes contactar-me.

Ana

Kiki - Família de 3 e 1/2 disse...

Olá Ana!
Não tenho palavras... OBRIGADA! Mesmo obrigada! Snif...
Escrever é uma paixão para mim e este blog é apenas uma brincadeira, um hobby, um vício...
Fico feliz por saber que há pessoas que gostam de cá passar!
Não tenho a certeza se o Francisco que eu estou a pensar é o teu filho porque não me estou a conseguir lembrar do apelido. Foi onde? (manda-me por e-mail se quiseres ou então não publico o comentário!)

Obrigada pela disponibilidade!

Beijinho

Sarah disse...

trabalho num lar de acolhimento ... sei bem do que expressas aqui.
opinião: fizeste mt bem!!! e sorri sempre! o bem-estar da criança e o proporcionar afecto está em primeiro lugar!
bjs*

disse...

claro que um filho deve estar com a mae e o pai.mas claro que os pais devem dar amor,educaçao,carinho aos filhos.se isso nao acontece,se esses pais maltratam os filhos,se nao dao o que eles precisam,entao sim esses pais nao merecem ter os filhos nas maos deles porque correm perigo e muitos correm perigo de vida e é graças a acçoes assim como estas que essas crainças se safam.

um beijinho

Anónimo disse...

Olá :) parabens pela tua generosidade, claro ke n vou me esticar com elogios pk n precisas pk sabes bem quem és ;))..
só queria dizer ke ate entendo ke n sorrias, pk denunciar situaçoes sem se ter uma rigorosa certeza do ke se está a fazer..é mto perigoso e cruel..eu pelo menos nunca o faria, pk pior ke uma criança menos bem tratada é uma criança ke se é e se sente abandonada..
já tive algumas experiencias nesse trabalho e digo ke faz-se mais mal ke bem ou retirar mtas crianças dos pais ..enfim opiniões :))