28/01/2019

Breves considerações sobre o Tinder

Pois é! Este bicho careta resolveu modernizar-se. Principalmente depois de perceber que era a única solteira (entre pessoas por quem até tinha alguma consideração) que não estava lá. 

Conseguiram convencer-me que estamos no século XXI e que quem tinha de se adaptar era eu. 

Muito bem.... Meia a vergonha lá abri o meu perfil... Meia a medo... E se me descobrem lá? Olha... É porque também lá estão!

Por via das dúvidas, tive o cuidado de escolher fotografias que não comprometessem e que não chamassem muito a atenção. Vê-se a cara sem se ver os sinais, também não se vê lá muito bem o corpo. Não há cá decotes nem mamas em primeiro plano ou poses comprometedoras (ou prometedoras!). Até porque eu não prometo nada a ninguém, aliás, os indivíduos são imediatamente avisados (após o devido Match e início de conversa) que tenho 2 filhos, um cão e não dou cambalhotas à rambo em casas-de-banho públicas. Isto dá logo margem para fazerem marcha a ré caso tenham vindo atrás de alguma artista de circo. 

Posto isto, daremos início às breves considerações. 

. Como é que aquilo se processa? Aparecem-te as fotografias dos machos. Vês os perfis, analisas ao detalhe as fotos (algumas não precisam de análise, um nano-segundo e está decidido!) se te agrada, arrastas a foto para a direita (é um Sim!) se não te agrada, arrastas para a esquerda (é um não!). Se te agrada incrivelmente e tens a certeza que encontraste um candidato com extremo potencial, arrastas para cima, ele ganha um Super Like e é notificado que o recebeu. (Nunca dei nenhum!)

. A parte boa é que eles só percebem que fizeste um like se te fizerem também é então dá-se o Match. Caso contrário, nunca vão sequer saber que os viste. 

. A pesquisa é feita por idade e raio de kms. Se fores como eu, em 1000 perfis, metes 2 likes. Rapidamente esgotas os perfis à volta da tua rua. Tive de alargar a distância e a idade até ao máximo para voltarem a aparecer perfis. A única coisa chata é poder aparecer algum tipo com potencial mas que mora a 150kms de ti ou encontrares algum amigo do teu pai. 

. A quantidade de tipos conhecidos e até amigos que nem fazias ideia que lá andavam, é GINÓRMICA! Por um lado ficas envergonhada porque percebes que eles te vão ver ali também. Por outro faz-te corroborar a ideia de que eras mesmo a última solteira que não andava lá. 

. 5€ por cada gajo CASADO que tu conheces e que encontras lá! (Precisava trocar de carro e dava-me jeito...) 

. Um like nos Ex’s. Só para ver se eles também metem! (E metem!) 

. 1€ por cada selfie na casa-de-banho em tronco nu e eu comprava a Santogal inteira. 

. Adorava poder dizer aos homens que as selfies com boquinha-de-pato não são sexy! 

. Adorava dar um par de tabefes aos que metem fotos com os filhos só porque sabem que as fotos ficam mais fofas.... (depois de lhes dar um tabefe, avisava as mães das crianças! Aposto que nem fazem ideia...) 

. Perfis com 10 fotografias vão logo com um não! Ninguém aguenta homens vaidosos... 

. Perfis de casais só deveriam aparecer a quem procura casais! É um bug do sistema, está visto! 

. Fotos de cãezinhos também são fofas, mas uma pessoa não anda à procura de um cão! Para isso ia ao canil... A cara do dono dava mais jeito. 

. Ficamos a conhecer as casas-de-banho todas do país. E os elevadores! (Mas com as mulheres deve ser igual...) 

. Quando o perfil até tem potencial, as fotografias são giras, o gajo tem um ar normal, não mete frases clichê na descrição mas no fim mete a altura. Como se não te sentisses já no talho a escolher a peça do catálogo, ainda levas com o calibre. Leva logo um não! 

. Perfis que falam demais! Com demasiadas descrições, demasiadas frases feitas... NÃO! 

. Selfies dentro do carro, sim! À porta do carro para exibir a máquina que, provavelmente nem é deles, é de vómito! 

Para concluir! Aquilo nem é mau. Está mesmo muita gente lá! É quase como ir ao bar que toda a gente frequenta mas estas sentada no sofá e metes logo conversa. 

Sou super esquisita... Em 5.000 perfis que me passaram à frente, devo ter posto 30 likes. Só alguns deram match e menos ainda deram encontros. 

Não sei se serve para encontrar aquela pessoa! Provavelmente não! Embora haja quem sim! Mas fazem-se amigos. Tem-se conversas giras. Conhecem-se pessoas interessantes que não se conheceria de outra forma. 

Num fundo, é um entretém. Se for usado com pés e cabeça, pode ser divertido! 


23/01/2019

A minha filha tem 10 anos e tem telemóvel

A minha filha tem 10 anos e tem um telemóvel. 

É verdade! Apesar de eu ter tido o meu primeiro com 17 anos. E de ter achado sempre que ela não ia precisar de um antes dos 16. (As mães gostam sempre de arrotar postas de pescada...) 

A troca de escola para o 2.º ciclo fez-me tomar essa decisão que, por mim e pelo pai, não seria tomada tão cedo. Mas o facto de ela ter amigas desde a sala de 1 ano, fez com que eu achasse que não deveria perder o contacto com elas. 

Por isso, sim! A minha filha com 10 anos tem um telemóvel. 

Mas a minha filha sabe que o telefone não se usa quando estamos à mesa. Mesmo que seja num restaurante. Mesmo que seja num café. 

Ela sabe que o telemóvel não se usa quando estamos a conversar. Porque as conversas são para se ter olhos nos olhos. 

Ela sabe que o telefone não se leva para a escola porque a escola é para se estudar e brincar com os amigos no tempo em que não estão em aula. 

Ela sabe que, se saírmos para um programa, o telefone não precisa ir porque é suposto estarmos em família e não em tecnologia. 

Ela sabe que o telefone não vai à noite para o quarto com ela porque a cama é para descansar e dormir. 

Ela sabe que o telefone pode ser usado antes do jantar para falar com as amigas desde que os trabalhos estejam feitos e o banho tomado. 

Ela sabe que quando eu peço para arrumar o telefone, é melhor arrumar à primeira para não ter de ficar sem ele dois dias. 

Ela sabe que o mínimo deslize nas suas obrigações dão direito a uma temporada sem telefone. (Duração da temporada conforme a gravidade do deslize!) 

A minha filha tem 10 anos e tem um telemóvel. Mas isso não lhe dá direito de propriedade sobre o mesmo. As regras continuam a ser nossas (do pai e minhas!). O tempo é controlado! As aplicações estão controladas. Até as conversas são por vezes abertas só para ter a certeza que tudo decorre em conformidade com a sua idade. 

Não! Não é invasão de privacidade! É algo que ela sabe que é feito. É feito à frente dela. E é-lhe explicado tudo o que achamos que não é adequado à sua idade e porquê. 

Se se passa tudo bem todos os dias? Claro que não! Nem sempre aceita que tenha de guardar o telefone. Nem sempre percebe porque é que não pode pegar no telefone antes de ir para a cama. (Quando os amigos dela continuam no WhatsApp até às 23:00)

A minha filha tem 10 anos e tem um telemóvel! Mas o regime cá de casa é autoritário. Por isso, ou funciona com as regras que eu defino com o pai. Ou deixa de haver facilitismos. 

É bom os nossos filhos crescerem na realidade temporal que lhes calhou. É bom que a evolução tecnológica seja acompanhada. Mas não podemos deixar os nossos filhos transformarem-se em pequenos zombies com ataques de ansiedade quando não estão ligados às máquinas. 

Tenho visto muitas crianças obcecadas com os telefones e tablets. E muitos pais que preferem nada fazer para não entrarem em conflito com os próprios filhos. 

Um dia, quando eles não souberem enfrentar uma adversidade da vida real (sem pistolas, técnicas de luta e efeitos sonoros), quando eles não tiverem inteligência emocional para lidar com os conflitos e as desilusões da vida real. Quando eles não escutarem os pais porque nunca foram obrigados a tal, os pais vão finalmente entender o erro que foi deixá-los agarrados aos telefones para evitar conflitos. 


Espero que ainda vamos a tempo de emendar isso! 

21/01/2019

O Arquétipo da Felicidade

Quando o sol bate na cara
E a chuva pára para passares 
E encontras uma moeda no chão 
E o senhor simpático te deixa passar.  

Quando o almoço está mesmo bom 
E a tua amiga te telefona 
E o teu filho te dá um beijo
E a cama cheira a lavado. 

Quando o banho é demorado 
E uma flor brota do chão 
E o pão ainda está morno 
E no rádio passa a tua canção. 

Quando a casa está em silêncio 
E as almofadas estão arrumadas 
E o bolo coze no ponto 
E o cabelo acorda ordenado. 

Quando o ordenado te cai na conta 
E o mar está espelho 
E a cidade está bonita 
E o depósito está cheio. 

Quando encontras logo um lugar 
E a senhora segura a porta
E o café está bem tirado 
E o vento cheira a calor. 

Quando acordas sem relógio 
E aquela mensagem de bom dia
E a luz entra no quarto 
E o cheiro do café. 

Quando pões aquela camisola 
E cheira a castanhas na rua 
E um cão bebé no colo 
E dás de caras com a lua. 

É tão fácil ser feliz!
Basta abrir os olhos

E ver o que o Mundo nos diz!

20/01/2019

Quando olhas para mim e pensas que viste tudo

Quando olhas para mim e pensas que viste tudo, na realidade não viste absolutamente nada. 

Quando olhas para mim e achas que viste tudo, não imaginas tudo o que está por trás da primeira imagem que vês. 

Não imaginas a quantidade de coisas que tive de viver primeiro para ser aquela que estás a ver hoje. 

Quando olhas para mim e achas que viste tudo, não imaginas a quantidade de força que fui conseguindo armazenar ao longo de cada batalha que venci. (E olha que foram muitas!)

Quando olhas para mim e achas que viste tudo, não imaginas o tipo de mulher que se instalou dentro de mim. 

Quando olhas para mim e achas que viste tudo, não tens noção da quantidade de coisas que consigo fazer ao mesmo tempo, sem um único queixume. 

Quando olhas para mim e achas que viste tudo, não sonhas o quanto eu consigo rir e ser feliz com as pequenas coisas da vida, mesmo quando está tudo a desmoronar à volta. 

Quando olhas para mim e achas que viste tudo, não tens noção da dose de resiliência que está aqui, pronta para enfrentar a próxima adversidade. As pequenas e as maiores. 

Quando olhas para mim e achas que viste tudo, não te passa pela cabeça que, por muito que me saiba bem um abraço reconfortante de vez em quando, consigo mover montanhas para ter a certeza que não falta nada aos meus filhos. 

Quando olhas para mim e achas que viste tudo, não imaginas o quanto sou feliz com tudo o que tenho e o quanto valorizo tudo o que me aconteceu, porque sei que tudo isso faz aquela em que me tornei. 

Por isso, quando voltares a olhar para mim, não penses que já viste tudo. Não penses que sabes perfeitamente com quem estás a lidar. 

Primeiro vais ter de descobrir as minhas piadas secas, aguentar as minhas loucuras, entender os meus devaneios sem sentido, ouvir o meu silêncio, perceber que os meus filhos virão sempre primeiro que qualquer outra pessoa, conseguir acompanhar o meu passo e entender o que te digo com os olhos. 

Porque o tudo que eu sou, não é visível a olho nu. Nem em partes de tempo que não são suficientes para caber tudo lá dentro. 


11/01/2019

Sobre o consentimento

Sobre o consentimento 

Parece que o sexo sem consentimento não é considerado violação. 

A mim parece-me que o que quer que seja que aconteça sem consentimento é obviamente uma violação. Violação de espaço, violação de privacidade, violação de dados, violação do direito de não consentir. 

Para que o que quer que seja não seja violação é preciso que o outro consinta! Certo? Parece-me óbvio! Mas parece-me também que não é assim tão óbvio para algumas pessoas. 

Para evitar que um ser humano (homem ou mulher) faça uma violação, qualquer que seja, a outro ser humano (homem ou mulher) é preciso que sejam educados e sensibilizados para tal. (Claro que depois existem patologias... Mas isso são excepções) 

Quando? Não, não é na adolescência! É desde o berço! 

E não é a dizer às meninas que têm de se proteger dos meninos ou aos meninos que não podem abusar das meninas. Até porque as violações acontecem de formas variadas e de ambos os lados. 

É fazer ver nos recreios das escolas que não podem puxar um amigo quando ele lhe diz para parar. 

É fazer ver nas praias que não podem tirar os baldes aos outros meninos se eles não quiserem emprestar. (E não! As crianças não são obrigadas a emprestar! Nós também não gostamos de emprestar algumas coisas pelas quais temos muita estima e eles têm o direito a isso também!)

E mesmo quando estão apenas a tentar ser afectuosos com os outros e estão apenas a receber um empurrão de volta, temos também obrigação de explicar à criança que tem de parar. Não é a criança que empurra a criança afectuosa que está errada. Nenhuma delas está! Mas a criança que não quer ser abraçada por outra tem o direito de não querer. E a outra tem de aprender a respeitar. 

Não estou a falar do tal beijo ao avô! Isso é outra conversa que daria outro (ou outros. 


Por isso, vamos ensinar os nossos filhos a respeitarem qualquer ser humano, o seu espaço, a sua vontade, a sua crença, os seus valores, as suas preferências mas também a respeitarem-se a si próprios. Em vez de nos preocuparmos em ensinar as filhas adolescentes que têm de se proteger dos rapazes.