17/05/2016

Ser mãe de uma criança condicional

Uma pessoa, quando resolve fazer um filho, mesmo que seja por acidente (como eu), devia ter em conta que, em Portugal (não sei nos outros países), não é bom nascer entre 15 de Setembro e 31 de Dezembro. 
A minha pontaria foi certeira! 1 de Novembro. Rapaz ainda por cima! (Há sempre aquele estigma...)

Nada disto teria problema, se, neste pequeno país à beira mar plantado, se decidisse a entrada da criança para o 1º ano com base na sua maturidade e desenvolvimento, em vez de ser com base na sua data de nascimento, ou seja, para quem ainda não chegou lá ou não sabe, uma criança nascida entre 15 de Setembro e 31 de Dezembro, é uma criança condicional para o governo. Não é obrigatório ser colocada numa sala de 1º ano, se não houver vaga. Por isso, fica "retida" nos 5 anos. Mesmo que esteja preparada para entrar. 

O meu filho é um mártir! Porque além de ser uma criança condicionalíssima, tem uma mãe educadora. Ando a galar o rapaz de fininho desde os 3 anos!

Muito sinceramente? A expressão "atrasar um ano" devia ser alterada para "ganhar um ano"! E só esta mudança seria suficiente para apaziguar muitos corações de mães. Nenhuma criança perde em ficar mais um ano no pré-escolar! NENHUMA!!! Aliás, todas deviam "ganhar um ano" de bónus!
Já pensaram como seria bom poderem brincar mais? Descobrir mais? Sujarem-se mais! Sentarem-se mais tempo no chão. Brincarem mais tempo no chão. Deitarem-se mais tempo num tapete a ver um livro! O 1º ciclo é um serial killer de infâncias! Eu fico maluca cada vez que vejo as matéria que a minha filha já dá no 2º ano... Eu achava que ia conseguir acompanhar as matérias (matemática principalmente) até ao 7º ano, mas estou a ver o tempo a ficar cada vez mais reduzido. Está tudo tão diferente...

No ano passado, tinha o meu filho condicionalíssimo, rapaz, irmão mais novo, último bebé da mãe, nos 4 anos. Eu olhava para ele, para a sua maturidade, para o seu discurso, e tinha a certeza absoluta que ele teria de repetir os 5 anos. Quanto mais não seja, porque, mesmo que quisesse, ele não ia entrar no 1º ano de uma escola pública com toda a certeza. Resolvi mudá-lo de sala, de educadora, de amigos. Porquê? O meu medo não era ele "ganhar um ano", era eu não tomar a decisão certa! E se ele passa para o 1º ano e não atina com aquilo? E se ele não passa e fica desmotivado? Não há uma ciência exacta que nos permita saber se estamos a tomar a melhor opção. Até porque as crianças passam o ano todo nos 5 anos com ganas de irem para o 1º ano e de serem crescidos. E a frustração de ele não ir era a única coisa que me preocupava. Aquilo que inicialmente me parecia uma maldade (nós sofremos por fazer e por não fazer, é uma merda) por separá-lo das referências dele desde bebé, em termos práticos, achei que iria ser um push-up no seu crescimento. Ele ia ter de se adaptar às novas professoras, rotinas, fazer novos amigos, etc. e assim podia ser que não fosse necessário ficar mais um ano no pré-escolar. 
Depois de andar os dois primeiros meses de coração apertado com medo de não ter feito a escolha certa, ele adaptou-se. Tão bem! Adora as novas professoras e os novos amigos e está feliz na sua nova sala! 

NOTA IMPORTANTE - Na maior parte dos casos, as mães sofrem mais com as mudanças do que os próprios filhos!

O mais impressionante de tudo, é ver o quanto ele cresceu. As competências todas que adquiriu ao longo deste ano e, sobretudo, a maturidade que ganhou. Autonomia, independência, tudo melhorou. 

Durante o banho de hoje, numa crise de mariquice por causa de uma ferida que lhe ardia na água, (sim... Eu falei em maturidade! Mas ele é homem, querem o quê?) começou a gritar:
- Au! Mãe! Au! Au! Au!
De repente parou! 
- Hey... Espere aí! Au??? Parece mesmo que estou a dizer um A e um U! Já ouviu mãe? Aaaaaauuuuuuuu!!! 
- Uau meu amor!!! Esse raciocínio foi espectacular!! 
- Oh mãe, eu estou a dizer isto, mas eu não sei escrever isto! 
- Não interessa querido! O importante foi teres chegado lá! 

Filho! Meu querido filho!!! É que é isso mesmo! E se tu soubesses o importante que é para ti, fazeres essa descoberta sozinho! (E o quanto alivias a tua mãe) 

Sim! O meu rapaz condicional está, felizmente, mais preparado para o 1º ano, do que a irmã estava. Menina do início de Setembro! Espero não me enganar!...

Mas era tão bom que um dia, neste pequeno país, se entendesse que não há crianças condicionais! Mas sim crianças que precisam de mais tempo de brincadeira e aquisições, independentemente da sua data de nascimento. 

Mães que estão nesta situação! Descansem os vossos corações. Fazer mais um ano no pré-escolar só os vai fazer ganhar. Tempo! Brincadeira! Descobertas! Crescimento! Se acham que eles se vão abaixo por ficarem com os meninos pequeninos, mudem-nos de escola. Nem vão notar que estão mais um ano nos 5 anos! As que ainda forem a tempo, pensem nisso na transição dos 2 para os 3 anos. Eles  ainda não têm noção das razões e poupa-vos esta terrível angústia 2 anos mais tarde. 


14 comentários:

Unknown disse...

Pois eu sou mãe de uma criança que deveria ter nascido a 22 de Setembro. Lá está como educadora a palavra condicional pairou sobre mim toda a gravidez. Quando a medica disse:"marcamos cesariana p dia 13" Primeiro pensamento? bye bye miúdo condicional lol é como dizes. Sofremos mais q eles :-) :-) :-)

Helena disse...

Aqui tenho umas Gemeas de dezembro.. Tomei essa decisão já no berçário.. Deveriam ter passado para a sala de 1 ano em janeiro mas optamos por manter no berçário e deixá-las crescer... Eu sou condicional e acabei o curso com 21 anos... Mais um aninho tinha-me sabido lindamente;)

Patrícia disse...

A minha M de 25 de Novembro "ganhou um ano" logo aos 2 anos. Era a mais novinha da sala, foi um drama. Quando todos já andavam ela ainda nem gatinhar sabia, muitas birras, muito desgaste. Mudei-a 1 ano depois para uma nova creche e quis o destino que passasse a ser a mais velha da sala. Remédio santo. Tenho desde aí (já lá vai mais de 1 ano) uma filha tão diferente, tão madura, preocupada, sorridente. :)

Inspired disse...

Também sou mãe de uma miúda condicional. :) Faz 4 anos a 18 de Outubro... Só este ano comecei a pensar nisso, vamos lá ver como se desenrolam as coisas até lá!...

Anónimo disse...

Tenho um filho que é de 1 de Novembro, que engraçado.
E vivo com este dilema, vai fazer 5 em Novembro e não sei que faça, acho que é muito imaturo, bebezoca...vou esperar para ver.

Bjs

Anónimo disse...

Tenho duas filhas, uma de dezembro que anda no 3º ano (condicional), é bastante imatura nas suas atitudes mas é a melhor aluna da turma e tenho outra de 4 anos de junho que é muito mais autónoma e responsável que a irmã. Dois exemplos bastante diferentes.

Anónimo disse...

Desculpe mas não percebi se mudou o seu filho de escola porque ganhou mais um ano e por ser condicional não tinha vaga no 1 ciclo ou se foi porque não estava totalmente satisfeita com a escola onde estava... faço esta questão porque também sou mãe de um menino condicionalce neste momento tem 4 anos e não sei se o hei de mudar de escola... Não estou nada satisfeita com esta mas tenho receio de o mudar.

Kiki - Família de 3 e 1/2 disse...

Eu mudei-o de escola! Mas ele passou na mesma dos 4 para os 5. Quis que a mudança o "obrigasse" um bocadinho a crescer. E foi mesmo o que aconteceu. Caso não acontecesse, eu já estava convencida em deixá-lo "ganhar" mais um ano. Mas a verdade é que ele deu um grande pulo e neste momento estou confiante que passá-lo para o 1º ano vai ser uma boa decisão. (Deus queira!!!) ele faz os 6 só em novembro!
Boa sorte!!!!! Beijinho :))

Kiki - Família de 3 e 1/2 disse...

Eheheheheheh isso foi uma técnica e pêras!!!!!

ana Cristina Santos disse...

Eu tenho uma filha de 12 de Novembro já com 18 anos uma belíssima aluna e nunca tive qualquer dúvida em pela na escola com os 6 anos já feitos. ...não sou nada a favor de entradas condicionais as crianças têm no mínimo 12anos para andar na escola e para brincar nem tanto e mais um ano de brincadeira só faz bem. ...

Anónimo disse...

Li agora o texto e fez-me tanto sentido. Mudei o meu filho de 2 anos de creche e o que ele tem desenvolvido nestes ultimas semanas.....sim semanas pois parece mais crescido e autonomo. Apesar do medo inicial (meu) tudo esta a correr bem e cada dia tenho mais certeza disso. Deixa-me mais descansada para a transicao para a pré. Obrigada kiki por ser educadora, positiva e mostrar um lado com o qual nos identificamos:maternidade real sem ser sempre tudo bom e perfeito. Ser mae é tambem uma constante aprendizagem. Beijinhos

Unknown disse...

Eu pedi para o meu filho ficar "retido" na sala dos 3/4 anos... faz agora 4anos em junho e não tem nada que ir para a sala dos 4/5anos ja para aprender letras e abecedário e o camandro, e principalmente ficar sem a sesta! Fui muito criticada mas do meu filho sei eu!!!

Anónimo disse...

Este texto precisa de ser publicado em todos os jornais e revistas deste país!!!!
PS: No 1# ciclo há quem se esforce muuuiiitooo para contornar atrocidades curriculares!! Muuuiiitttooo!! Aqui também queremos crianças felizes!

Anónimo disse...

Penso que esta questão tem muito a ver com cada criança.
O meu filho mais novo é de 11 de Dezembro. Quando foi para o último ano do infantário, disse à educadora que ele não iria para o primeiro ano no ano seguinte, exactamente por achar que só deveria ir para a escola com os 6 anos completos.
Acontece que, a determinada altura do ano lectivo, me apercebi que ele conseguia ler. Inicialmente, achei que eram só palavras aliadas a figuras (vaca, porco, no talho; papel, numa bomba de gasolina...). Mas uma tarde, depois de ter estado uma quantidade de tempo a brincar(pensava eu...) muito calado, veio perguntar-me: mãe, o que é água "destílada"? - onde é que viste isso? - está aqui! - era o rótulo da garrafa de água destilada do ferro - ou seja, sabia mesmo ler!
Assim, tive medo que, se o deixasse ficar mais um ano no infantário, ele se pudesse de qualquer forma desinteressar, por não aprender mais.
Falei com a educadora, que me disse que o meu filho estava perfeitamente apto a seguir para o 1º ano. E, de facto, nunca teve problemas a nível de acompanhamento, quer dos estudos, quer dos companheiros.
Mas ainda hoje, a meses de fazer 30 anos, tenho pena de lhe ter "tirado" 1 ano de brincadeira.
Maria Pinheiro