23/01/2019

A minha filha tem 10 anos e tem telemóvel

A minha filha tem 10 anos e tem um telemóvel. 

É verdade! Apesar de eu ter tido o meu primeiro com 17 anos. E de ter achado sempre que ela não ia precisar de um antes dos 16. (As mães gostam sempre de arrotar postas de pescada...) 

A troca de escola para o 2.º ciclo fez-me tomar essa decisão que, por mim e pelo pai, não seria tomada tão cedo. Mas o facto de ela ter amigas desde a sala de 1 ano, fez com que eu achasse que não deveria perder o contacto com elas. 

Por isso, sim! A minha filha com 10 anos tem um telemóvel. 

Mas a minha filha sabe que o telefone não se usa quando estamos à mesa. Mesmo que seja num restaurante. Mesmo que seja num café. 

Ela sabe que o telemóvel não se usa quando estamos a conversar. Porque as conversas são para se ter olhos nos olhos. 

Ela sabe que o telefone não se leva para a escola porque a escola é para se estudar e brincar com os amigos no tempo em que não estão em aula. 

Ela sabe que, se saírmos para um programa, o telefone não precisa ir porque é suposto estarmos em família e não em tecnologia. 

Ela sabe que o telefone não vai à noite para o quarto com ela porque a cama é para descansar e dormir. 

Ela sabe que o telefone pode ser usado antes do jantar para falar com as amigas desde que os trabalhos estejam feitos e o banho tomado. 

Ela sabe que quando eu peço para arrumar o telefone, é melhor arrumar à primeira para não ter de ficar sem ele dois dias. 

Ela sabe que o mínimo deslize nas suas obrigações dão direito a uma temporada sem telefone. (Duração da temporada conforme a gravidade do deslize!) 

A minha filha tem 10 anos e tem um telemóvel. Mas isso não lhe dá direito de propriedade sobre o mesmo. As regras continuam a ser nossas (do pai e minhas!). O tempo é controlado! As aplicações estão controladas. Até as conversas são por vezes abertas só para ter a certeza que tudo decorre em conformidade com a sua idade. 

Não! Não é invasão de privacidade! É algo que ela sabe que é feito. É feito à frente dela. E é-lhe explicado tudo o que achamos que não é adequado à sua idade e porquê. 

Se se passa tudo bem todos os dias? Claro que não! Nem sempre aceita que tenha de guardar o telefone. Nem sempre percebe porque é que não pode pegar no telefone antes de ir para a cama. (Quando os amigos dela continuam no WhatsApp até às 23:00)

A minha filha tem 10 anos e tem um telemóvel! Mas o regime cá de casa é autoritário. Por isso, ou funciona com as regras que eu defino com o pai. Ou deixa de haver facilitismos. 

É bom os nossos filhos crescerem na realidade temporal que lhes calhou. É bom que a evolução tecnológica seja acompanhada. Mas não podemos deixar os nossos filhos transformarem-se em pequenos zombies com ataques de ansiedade quando não estão ligados às máquinas. 

Tenho visto muitas crianças obcecadas com os telefones e tablets. E muitos pais que preferem nada fazer para não entrarem em conflito com os próprios filhos. 

Um dia, quando eles não souberem enfrentar uma adversidade da vida real (sem pistolas, técnicas de luta e efeitos sonoros), quando eles não tiverem inteligência emocional para lidar com os conflitos e as desilusões da vida real. Quando eles não escutarem os pais porque nunca foram obrigados a tal, os pais vão finalmente entender o erro que foi deixá-los agarrados aos telefones para evitar conflitos. 


Espero que ainda vamos a tempo de emendar isso! 

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