23/08/2017

Eu sou heterossexual!

Ando há dias a conter-me com esta questão levantada pela Sra Secretária de Estado. 
Num país supostamente civilizado o assunto "orientação sexual de um indivíduo" parece-me que deveria ser um não-assunto. Ou não? 

Se a sexualidade de cada um, a cada um diz respeito, se nos devemos respeitar por aquilo que somos e aquilo que fazemos, aquilo que somos não passa nem pelo tipo de pessoas com quem temos relações sexuais, nem pelas nossas crenças religiosas (ou ausência delas), ou cor de pele. 
Parece-me a mim que a homofobia e a xenofobia não vão acabar enquanto continuarmos a colocar rótulos nas testas. Pior, a colocarmos rótulos a nós próprios. 
Se cada um sair à rua a gritar ao Mundo que é católico, judeu ou muçulmano. Que gosta de pipis, pilinhas ou ambos. Vamos estar eternamente a desviar as atenções do essencial! 

A senhora secretaria de estado desempenha a sua função honestamente e com dedicação? O senhor advogado defende os seus clientes com integridade? O Sr Doutor faz os possíveis e impossíveis para curar os seus pacientes? A senhora professora ensina os seus alunos com respeito à individualidade de cada um? 

E os indivíduos num todo tratam o próximo com respeito? São honestos? Pagam as vossas contas? Ajudam quem precisa de vocês? 

Então? Onde é que a sexualidade entra aqui? Ou os credos?  O que é que isso muda no desempenho dos nossos deveres cívicos e humanos? 

Estamos a querer fazer assunto de uma coisa que não é sequer assunto. E enquanto isso for assunto, é sinal que não estamos ainda onde deveríamos estar. 

Eu sou Educadora de Infância. Mãe de 2 crianças. (E nem isto me define como pessoa!) Luto todos os dias para dar o melhor de mim a quem me rodeia. Com quem eu durmo, a quem eu rezo ou aquilo que como ao almoço não fazem de mim melhor nem pior que o meu vizinho do lado ou que o meu colega de trabalho. 


2 comentários:

Vera Varela disse...

Tudo dito! Obrigada e brijinhos

Unknown disse...

Percebo o que ela diz, mas há toda uma coisa por trás de as pessoas dizer algo como "eu sou x" quando x é alguém que ainda hoje é discriminado. Por exemplo, eu conheço pais de crianças surdas que não investem nelas porque não acreditam que um dia possam ser autonomas e integradas na sociedade. Só o fazem quando eu apareço e digo: tenho curso universitário, carreira profissional, sou casado, tenho duas filhas lindas e já agora também sou surdo... isso tem um impacto brutal nesses pais que começam logo a ver os filhos com outros olhos. E no entanto não foi por ser surdo que tenho estas N coisas ditas "normais" na minha vida. Provavelmente, existirá um paralelo no que respeita à homossexualidade: pais que hoje rejeitam ou violentam os filhos que se assumem, porque os veem como aberração e não como alguém que um dia poderia, pasme-se, ser um governante. Creio que foi mais nesse sentido que a senhora disse o que disse e não com objetivos de promoção ou "fazer assunto".