12/10/2018

Coração de mãe é elástico!

Todos os dias pomos à prova a elasticidade do nosso coração de mãe. Basta ver a quantidade de vezes por dia que passamos de cordeirinho cor de rosa, macio e cheio de luz até ogre esventrado com todas as forças do mal a saírem pelos poros e voltamos a cordeirinho rosinha logo a seguir!

Felizmente não testamos a elasticidade do nosso coração até ao extremo todos os dias!

Faço este post em jeito de alerta. Provavelmente um alerta básico! Mas ainda assim, não custa lembrar.

Sou aquela pessoa que, quando está sem os filhos por perto, tem sempre o telefone com som. Que nunca deixa de atender nenhum telefonema porque não sabemos quando vai ser o telefonema que devemos mesmo atender.

Até ao dia em que não atendi. Aquele dia em que estava a trabalhar. Descansada porque eles estavam no colégio e, por isso, em segurança e entregues. O dia em que vi um número que não conhecia e por estar a tirar os meus alunos da sesta (um momento alto da rotina diária) não atendi!

- Hum.. Agora não consigo! Liguem mais tarde!

Pensei eu na minha maior tranquilidade! (Facadas no coração!) Passados uns minutos liga-me o pai dos meus filhos. Estranhei ligar-me àquela hora...

O meu coração estilhaçou-se quando ouço dizer: “Estou a caminho do hospital! O Vicente bateu com a cabeça e está a ir de ambulância!”

Deixei de ver! Deixei de ouvir! O meu estado estava de tal forma alterado que fui buscar a minha carteira, agarrei nas chaves do carro e numa tesoura... Uma tesoura...

Pus os 4 piscas e voei! Não me lembro do caminho! Só me lembro de ir a rezar o tempo todo! Não fazia ideia do que tinha acontecido nem do estado em que ele estava. Apenas sabia, enquanto Educadora, que, para não terem esperado por nós na escola e o terem mandado de ambulância, não era bom sinal.

Consegui chegar antes da ambulância ao hospital e o meu coração voltou a parar quando vejo uma ambulância do INEM e não uma ambulância dos bombeiros...

Ele estava consciente e não havia sangue! Soube então que tinha caído a jogar futebol e que tinha vomitado.

Os momentos seguintes foram de pânico. Ele balbuciava em vez de falar e os olhos dele reviravam enquanto ele deixava cair a cabeça. Sabia que estávamos no sítio certo! Mas não sabia o que esperar... E não saber o que esperar quando vemos um filho assim é a pior sensação do Mundo!

Felizmente o pai estava lá também e conseguiu manter a calma! A dele e a minha. Enquanto eu, nervosa, angustiada e dorida não parava de lhe fazer festinhas, rezava para dentro e tentava controlar as lágrimas, o pai esteve sempre à frente dele a tentar mantê-lo calmo e acordado.

- Vicente.. Diz ao pai quantos dedos estão aqui! - perguntou ele com 4 dedos espetados..
- Se..... te.....

O meu coração mirrava a cada segundo que passava...

O médico chegou, fez-lhe algumas perguntas, ele respondeu com bastante dificuldade...
Quando o levantou para ver se era capaz de andar, ele caiu no chão a vomitar novamente!

Seguiu imediatamente para o SO e para o TAC.

A incerteza... Sempre a incerteza de como ele estaria e o que iria acontecer a esmagar-nos o coração cada vez mais estrangulado...

Felizmente o TAC estava bem... Seguiram-se 8h a soro. Deixaram-no dormir. Dormiu horas seguidas... Volta e meia acordava! Ia melhorando de cada vez que acordava mas sempre muito confuso!

Às 23:00, como por magia, acordou! Novo! Parecia que nada se tinha passado! Piscou o olho à enfermeira e seduziu-a com as suas piadas que o caracterizam! Nem queríamos acreditar!

Conseguiu levantar-se! Conseguiu comer! Conseguiu vestir-se! Espalhou charme pelo SO inteiro e pôs médicas e enfermeiras a rir com o seu sentido de humor.

O meu coração, estralhaçado e pequeno, começou lentamente a voltar ao normal! Só me apetecia abraçá-lo e dar-lhe beijos!!!

- Mãe, não sei se é boa ideia jogar futebol!
- Nem penses!!! Vais voltar a jogar futebol! E eu nunca mais deixo uma chamada por atender!!!


Não posso deixar de registar uma enorme vénia à equipa de urgências e do SO pediátrico do Hospital de Cascais! Desde as enfermeiras (Obrigada enfermeira Carolina!) aos médicos, às auxiliares! Sempre fantásticos, sempre prestáveis, sempre preocupados, sempre meigos e simpáticos. Tanto com o Vicente como connosco, pais!

Mais uma vénia ao meu querido defunto que manteve sempre a calma e agiu como era preciso e soube passar-me tranquilidade nas horas mais aflitivas!

E já agora, um enorme obrigada a todas as pessoas que mandaram tantas mensagens e telefonemas a saber do Vicente!!!

Foi um grande susto que acabou como devia acabar! Bem!

2 comentários:

Isabel Silva disse...

Adoro o seu blogue e a forma como escreve. Com este post lembrei a vez que o Eduardo com 18 meses e aparentemente tudo bem e consulta 3 dias antes, começou a sangrar pelo nariz a noite e não para a...algo no coração de mãe dizia que não era normal...também nós voamos para o hospital a tentar dizer que não era nada mas aquela vozinha dizia que algo não batia bem. Internado 15 dias no S. João com anemia aguda e insuficiência renal aguda! Felizmente temos um serviço de saúde com profissionais fantásticos e com um coração bondoso, que nos ajudaram a enfrentar com um bebé tão pequeno com muito carinho.
Um beijinho grande e parabéns pelo blog

Liliana Lourenço disse...

Grande susto...
Eu apanhei um enorme...mas só percebi mais tarde...graças as Deus...
O meu filho com 25 meses engoliu um corrosivo/abrasivo que estava numa garrafa de agua.
Estava comigo,sozinho... Engoliu e eu não vi. Quando veio ter comigo,chorava muito,babava se é tinha a zona da boca e queixo com queimaduras.o Duarte dizia muito poucas palavras.Avalie e não entendi o que tinha acontecido fui com ele é ele apontou para a garrafa...era de agua...mas pus o dedo e provei...era intragável.
Ligo para uma amiga medica...ela diz vem para o hospital...o Duartte vomita...ponho no carro...volta a vomitar...la consegui prosseguir..cheguei era o caos, era hora de visitas.aproximei do segurança...expliquei melhor que pude...e estacionado na zona das ambulâncias.
Qd cheguei tinha uma equipa a minha espera...médicos e enfermeiros.colocaram logo cateteter na veia para dar medicação...eu cantava baixinho no ouvido...para se acalmar.A medicação fez efeito. Ligo ao meu marido e a minha mãe para ir buscar a minha filha mais velha. A minha amiga veio falar comigo...tinham os de ir para o pediatrico Coimbra . Fui de ambulância com o meu filho monitorizado e uma enfermeira.cheguei e tinha duas medicas da especialidade da gasttro à minha espera.O Duarte estava aparentemente bem,calmo e com muita baba...as camisolas sempre molhadas.Foi fazer uma endoscopia com sedação geral.quando acabou ...aí sim ...percebi a gravidade.vinha com respiração artificial e todo entubado..no pé...para alimentação...no nariz...para outro tipo de alimentação...três torneiras no cateter que ja tinha.fomos para os cuidados intensivos com prognóstico reservado..tudo estava queimado,laringe,faringe...esôfago.Fiquei sem pinga de sangue.Permanecemos ai durante 3dias.apos três dias ficamos longos 7 dias internados para tratamentos.
Hoje esta bem. Mas foi longa a recuperação e com muitas idas ao hospital...para realizar endoscopia. As equipas fantásticas...agora quando penso neste dia,não me lembro de tudo...mas só mais percebia algumas atitudes e palavras. Beijinhos